(20) Instantâneos: o naufrágio do anjo
Abatidos, cansados, enfim derrotados, embora sãos e salvos após várias tentativas frustradas de recuperar
uma das “estrelas” da Marinha Portuguesa. Assim se sentiam os tripulantes do cruzador naufragado a 21 de outubro de 1911 ao largo de Vila do Conde. Um ano depois de ter sido decisivo para a vitória republicana no 5 de outubro de 1910, o São Rafael afundou-se por acidente, sem glória, ironicamente, quando patrulhava a costa para controlo das forças monárquicas que, no norte do País, ainda tentavam inverter a mudança política em Portugal.
O naufrágio, no qual pereceu o grumete António Maria Dias e se perdeu uma embarcação da estação de Socorros a Náufragos da Foz do Douro, ficaria para sempre na memória coletiva das populações que ajudaram no resgate e receberam de braços abertos os 237 marinheiros que seguiam a bordo e até o malogrado elemento da tripulação, sepultado no cemitério local.
As rochas ameaçadoramente aguçadas onde o navio encalhou, a ventania inclemente e uma tremenda agitação marítima ditaram o triste fim do navio e por pouco não reclamavam mais vidas, tal a dificuldade enfrentada pelos diversos meios de salvamento que ali acorreram, arriscando muito num vaivém heroico mas traiçoeiro, que poderia ter terminado em tragédia. Em terra, apenas a 400 metros, o povo assistia impotente, afligia-se e atirava gritos ao vento.
Os “anjos, como ficaram conhecidos os navios “gémeos” São Rafael e São Gabriel, pertenciam à classe dos cruzadores protegidos – blindados contra estilhaços de granadas.
Construídos em França e lançados ao mar em 1898, foram os primeiros navios portugueses equipados com sistema de telecomunicações TSF.
Foram batizados em alusão às naus que seguiam na frota de Vasco de Gama na descoberta do caminho marítimo para a India, em 1497.
A São Rafael, tal como o seu homónimo, não regressaria a “casa”: por falta de gente para a manobrar até Lisboa, foi queimada ao largo de Mombaça, propositadamente encalhada nuns baixios desde esse dia batizados com o mesmo nome anjo.
Fontes
Hemeroteca Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/
A Illustração Portugueza
Nº298 – II série – 6 novembro 1911
O Occidente – revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro
23º ano, XXIII volume, nº 782 – 20 setembro 1900
http://ww.cm-pvarzim.pt/biblioteca/index.php?op=event&id=1873&cat=diana
https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_S%C3%A3o_Gabriel