(12) Instantâneos: fés e vaidades da Semana Santa
Sete igrejas. Cada fiel deveria – deve ainda?! – visitar sete igrejas na Semana Santa. Isso justificava o grande movimento de senhoras e senhores, com os seus melhores trajes; rua acima, rua abaixo; passando pelos diversos templos de portas abertas. Momento de meditação, de autoanálise, mas também, mostram as revistas de outros tempos, oportunidade para ver e ser visto, numa feira de vaidades que pouco tem a ver com a penitência, o recolhimento, a introspeção que a época pedia – pede ainda?!.
A imprensa realça os fatos das senhoras, escuros – em preto e roxo - até Sexta-Feira Santa; claros, primaveris, a partir do Sábado de Aleluia. Mostra e descreve os ilustres que se dedicam a esta deambulação religiosa, conde disto, marquês daquilo, comendador de aqueloutro; mademoiselle fulana, madame sicrana…só desses reza a história.
A Ilustração Portuguesa, em 1907, já falava de estarem as cerimónias vazias de algum do seu simbolismo inicial. De preces e gestos que “parecem automáticos” e dos muitos que faziam o trajeto pela curiosidade, mais do que pela fé.
Fala do negócio em torno da quadra, dos quilos de amêndoas que se vendiam e da carne que se comia avidamente depois do período de renúncia – “o magro”. “Correm-se sete casas de amêndoas, como na quinta-feira se correram sete igrejas”, comenta.
Muito folclore para pouca fé, parece. No entanto, diz a revista, havia – há ?! - “ainda, no meio do ceticismo dos tempos correntes, crenças sinceras e verdadeira piedade”. Valha-nos isso.
Fontes
Hemeroteca Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt
Illustração Portuguesa
Nº59 – 8 abril 1907
Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt
Joshua Benoliel
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/002210
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/002209
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/002204
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/002203