(6) Pela imprensa: conhece a fada dos beijos?
Será esta estranha mulher, com rosto longo e olhos semicerrados, a fada dos beijos?
Será o pequeno tubo que tem em mãos que, como se de um feitiço se tratasse, faz ser alvo de cobiça dos beijoqueiros aqueles que utilizarem o produto que contém?
Ou, mais difícil ainda, fará qualquer um ser “beijável” até mesmos aos olhos dos mais esquivos dessas atividades osculares?
Assim, de repente, são estas as principais dúvidas que me assaltam ao observar este belo anúncio da marca portuguesa Benamôr.
Mas, depois percebemos que este semblante imperturbável e a frase no topo é um chamariz, um teaser, como hoje se designaria. E funciona!
Faz-nos parar, encantados, embora a pureza gráfica não oculte que esta face tem uma beleza questionável se atentarmos aos cânones, pois as feições não são irrepreensíveis ou sequer proporcionadas. Não são celestiais nem, pelo contrário, provocantes. Não são também, certamente, vulgares. Esse é, talvez, o seu maior trunfo: o inusitado.
Depois, vem a mensagem que se quer passar: aquele “encantador produto” promete a “saúde e o perfume da boca”, tal como uma “fada dos beijos” concederia. Trata-se da pasta dentífrica Benamor, que ainda oferece uma amostra gratuita do elixir da mesma marca e está à venda em todo o País.
Não seria maravilhoso que o toque fantástico da fada dos beijos estivesse à disposição em toda a parte…e por apenas 3$00?
De certa forma, a Benamôr tem essa magia que apregoa, já que é um verdadeiro êxito, diversas vezes apelidada de “Nivea” portuguesa.
Foi fundada em 1925, por um farmacêutico que usava produtos naturais para criar pomadas “milagrosas”, no seu laboratório, no Campo Pequeno, em Lisboa.
Entre os primeiros produtos com maior sucesso, realce para “o famoso creme de rosto Benamôr, inalterado até hoje; o Petroleo (1º tratamento de cabelo antiqueda), o protetor solar Bronzaline, os batons e pó-de-arroz e as luxuosas águas de colónia Oregan & Chypre”.
Ao que consta, entre as apreciadoras da marca esteve a última rainha de Portugal. D. Amélia de Orleães terá sido fiel à Benamor até ao resto da vida.*
As linhas Art Déco que cativaram a clientela desde o início são ainda um trunfo, nesta época revivalista em que vivemos.
……..
* A marca não explica, mas como D. Amélia se encontrava no exílio desde 1910, presume-se que a Benamôr fizesse chegar os produtos de eleição a Château de Bellevue, perto de Versalhes, onde viveu até 1951.
Fontes:
Hemeroteca Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/
Ilustração
5º ano – 16 fev. 1930
http://benamor1925.com/historia/?lang=pt-pt
https://pt.wikipedia.org/wiki/Amélia_de_Orleães