Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

(9) Pela imprensa: ou colaboram, ou levam!

censo geral populacao arquivo ferreira do zezere.G

A ideia é incentivar os cidadãos portugueses a participar nessa tarefa patriótica que é perceber quantos somos, quem somos e como vivemos, que é o mesmo que dizer: colaborar com o recenseamento geral da população, vulgo censos. Mas, é muito difícil olhar para este anúncio sem pensar em ameaças à nossa integridade física.
O senhor com cara de poucos amigos e farda aparentada com a de polícia sinaleiro parece afirmar: ou fazem o que têm a fazer ou levam com este cassetete na tola. Ou falam verdade, ou vou atrás de vocês…E se mentirem, eu vou saber!!!
A postura, é, de resto, muito ao jeito da época. Estávamos em 1930, anos de estreia do Estado Novo. O jovem regime não queria dúvidas quanto aos seus propósitos de impor a ordem, mandando em tudo e em todos. Quatro anos antes tinha sido instituída a censura à imprensa e à liberdade de expressão e, no que toca aos censos, estavam previstas coimas pesadas para as denominadas “transgressões estatísticas”, sendo que se deveria utilizar todos os meios de publicidade ou persuasão ao alcance para levar à participação – daí o cassetete?!
O anúncio é da Direção Geral de Estatística, o INE – Instituto Nacional de Estatística só seria criado com a atual designação cinco anos mais tarde, em 1935. O VII recenseamento geral da população seguiu as indicações da carta de lei de 1887, mas introduziu algumas novidades, como dividir a população entre ativos e não ativos, sendo que, para os primeiros. foram também criadas categorias para a situação perante a profissão e o tipo de profissão, de forma a conhecer quantos indivíduos laboravam em cada sector económico. As mulheres casadas que se ocupavam dos seus lares foram incluídas na população ativa, como membros da família auxiliares dos respetivos chefes, os maridos, claro!

Fontes
https://www.cm-ferreiradozezere.pt/viver/arquivo
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE

 

(28) Instantâneos: o cinema que era uma fábrica

marcelino rebelo.GIF

Marcelino Rebelo ficou para a história de Alcácer do Sal por ter aberto ao público um cinema ao ar livre onde muitos alcacerenses que viveram a infância nos anos 30 e 40 do século XX tiveram o primeiro contacto com a 7ª arte. O Cinema Sado foi improvisado no quintal fronteiro da casa que o “Marcelino” tinha na zona do Cabo de São Pedro, junto ao rio, e que, embora em ruínas, ainda existe (na primeira fotografia).
Os filmes eram mudos, sobretudo histórias de cowboys, acompanhadas por música que saía de um roufenho gira-discos. Eram projetados numa parede, com uma máquina alugada. A vedação foi subida, fazendo uso de uns panos, para evitar mirones, mas havia sempre quem tentasse trepar ou esgueirar-se por debaixo dos bancos corridos onde o público pagador assistia. Era uma alegria!

O cinema, no entanto, escondia uma realidade menos recreativa: o “Marcelino”, homem empreendedor e de grande iniciativa, tinha no interior do mesmo edifício uma fábrica de descasque de pinhão (na segunda imagem), onde trabalhava mais de uma dezena de pessoas, sobretudo mulheres e crianças, que dali retiravam o seu sustento.

fabrica macelino.JPG


Marcelino João Rebelo – que se envolveu em múltiplos outros negócios, da taberna inicial ao comércio de carvão e até galinhas, está nas duas imagens. Na primeira, orgulhosamente, em frente ao seu Cinema Sado. Na segunda, ao fundo, “espreitando”, como que envergonhado, por entre duas cabeças femininas, mesmo por debaixo do senhor que roda a manivela de um estranho e arcaico equipamento.


Fontes
Jornal Voz do Sado, julho 2003, texto de João Marrafa, gentilmente cedido por Baltasar Flávio da silva
Arquivo Histórico Municipal de Alcácer do Sal
PT/AHMALCS/CMALCS/FOTOGRAFIAS/01/0175
PT/AHMALCS/CMALCS/BFS/01/01/01/166

 

(27) Instantâneos: a mártir dos que negaram a religião

sarahmattos1.GIF

O que fez centenas de pessoas, muito povo, mas também os mais altos representantes políticos do País, rumarem ao cemitério dos Prazeres, em Lisboa, ano após ano, para prestar homenagem a uma pobre adolescente que nenhum destes conheceu pessoalmente? Assim foi durante décadas, com os jornais a darem ampla cobertura às manifestações de pesar que se repetiam a cada dia 23 de junho e, para além da tradicional deposição de flores, incluíam sempre comícios e outros encontros igualmente concorridos de cariz anticlerical e antirreligioso, como especificavam os jornalistas da época.

Mas quem foi Sara de Matos, falecida em 1891 e recordada durante tanto tempo por republicanos e maçons?

sarah mattos2.GIF

Sara Pereira Pinto de Matos nasceu em Lisboa e ficou órfã em tenra idade, tendo sido internada no antigo Convento das Trinas do Mocambo, na zona da Estrela*, onde morreu poucos dias depois, oficialmente de síncope, com apenas 14 anos de idade.

As investigações demonstraram que a jovem não só tinha sido envenenada, como havia sido alvo de uma violação. Um caso trágico e sórdido, que apaixonou a opinião pública e transformou a pobre Sara num símbolo da luta contra a religião e as congregações religiosas, então na ordem do dia.

sarah mattos3.GIF


A adolescente foi assim transformada em baluarte do anticlericalismo, usada como argumento político e, em simultâneo, chorada por uma vasta camada popular, que se identificava com o sofrimento dos mais pobres e desprotegidos, não encontrando nos poderosos uma resposta para as suas súplicas.

Significativamente, o convento onde morreu fechou as portas em 1910, ano da Implantação da República.
O túmulo, um exemplo da arquitetura de inspiração maçónica, foi erigido por subscrição pública no jornal O Século e inaugurado no 20º aniversário da morte de Sara de Matos.

Situa-se Cruzamento da rua 12 com a rua 6A do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

campa sara de matos 4.GIF

……….
*Hoje sede do Instituto Hidrográfico.
………

Fontes
A simbólica maçónica existente no Cemitério dos Prazeres enquanto indicadora de novas sensibilidades perante a morte, de Dânia Rodrigues, em Sapiens: História, património e Arqueologia, nº1, julho 2009, disponível em http://revistasapiens.org/biblioteca/numero1/A_simbolica_maçonica.pdf

Hemeroteca Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/
Illustração Portugueza
Nº180, 2 ago. 1909

Jornal A Capital
Nº 711, 3º ano - 21 julho 1912
Nº 713, 3º ano - 23 julho 1912

A morte vestia-se de verde

a-bordadeira-1817-pintura-de-georg-kersting-atualm

 

Um pigmento verde simplesmente maravilhoso, versátil e fácil de obter. Lindo para tingir um vestido de musselina; deslumbrante ao colorir o envolvente papel de parede; apelativo para pintar o brinquedo do bebé; sugestivo ao dar cor a sabonetes; relaxante como escolha de tonalidade para a colcha da cama; de aspeto simplesmente apetitoso na cobertura de um bolo. Este fantástico verde está em todo o lado e ninguém se cansa dele. Só tem um problema: mata!


Esta é a história do produto que, durante o século XIX, estava omnipresente na vida das pessoas, em especial na sociedade inglesa, que ditava modas para o resto do mundo. Foi assim que se chegou a uma situação de envenenamento à escala global. Tudo porque uns estranhos camponeses dos Alpes Austríacos, vieram dizer que tinham uma saúde de ferro porque desde pequenos se habituaram a consumir arsénio, duas a três vezes por semana.


vestido verde.jpgArsénio? Sim, arsénio! De um momento para o outro, aquela substância, que antes servia para matar ratos, para nos despacharmos de um inimigo insuportável ou de uma tia cuja herança tardava, passou a ser o mais apetecível dos manjares.


Daí a ser apresentado como panaceia para todos os males, foi um pulo. O arsénio, nas suas diversas apresentações, estava em todo o lado: na cosmética anunciava atenuar as rugas; em gotas era um verdadeiro elixir de bem-estar; servia para tratar maleitas tão diferentes como malária, artrites, tuberculose, diabetes, sífilis; dor de cabeça; reumatismo e tudo o mais que a indústria farmacêutica se pudesse lembrar: até teria propriedades afrodisíacas, claro!

papel de parede william morris&co_golden lily.jpg

Se pensa que isto já era mau, fique sabendo que o problema mesmo foi quando um senhor chamado Karl Scheele - a que devemos a codescoberta do oxigénio - produziu no seu laboratório um extraordinário composto à base de arsénio (arsenito de cobre) com uma fascinante coloração verde, que rapidamente começou a ser produzido industrialmente e usado em tudo a que se quisesse dar aquele hipnótico tom de verde, até para cobrir doces e outros alimentos.


Nunca a arte tinha conhecido um verde tão natural e brilhante.


A moda endoideceu com tão bela cor para tingir tecidos e fez o verde aparecer em cada canto.


Mas, a cereja no topo do bolo foi o papel de parede.

William_Morris_The_Brook_214887_Gaudion_Furniture_

O papel de parede figurava em todas as casas da época vitoriana e, assim se espalhou para todo o mundo civilizado, em especial os intrincados, sofisticados e requintados padrões de William Morris (exemplos nas imagens 4 e 5), o mais célebre e prolífico designer de papel de parede de todos os tempos…que adorava verde e, ainda por cima, tinha a sua própria mina onde extraía o indispensável arsénio.

Este belíssimo papel de parede tinha ainda uma outra vantagem: quando usado em quartos de dormir, afugentava, como que por milagre, os incómodos piolhos, percevejos e até as pulgas que se multiplicavam saudavelmente até nos melhores leitos.


Só havia um problema: começaram a suceder-se mortes inexplicáveis. Pessoas saudáveis tinham episódios de indisposição e mal-estar graves, adoeciam e muitas acabavam por sucumbir sem que se conseguisse perceber porquê.

800px-Claude_Monet,_Impression,_soleil_levant,_187

Até que um astuto químico italiano – Bartolomeu Gosio – fez uma série de experiências com o afamado pigmento, que juntou a batatas e pão bolorento. Percebeu que os ratinhos em contacto com os gases emanados daquelas mistura finavam-se em pouco tempo.
O verde, exposto à humidade, exalava gases mortíferos e, como se não bastasse, com um desagradável cheiro a alho.
Mesmo com tantas evidências, não foi fácil fazer vingar esta ideia, já que a indústria estava interessadíssima em continuar a vender as suas produções, quanto mais verdes, melhor.
De facto, muitos produtos à base de arsénio continuaram com venda livre até meados do século XX.
Os velhos hábitos são difíceis de abandonar, até porque o arsénio é usado na medicina tradicional chinesa há milhares de anos e, na Europa, pelo menos desde o século XII, ao que acresce o facto de existir naturalmente no nosso organismo.
Há outra explicação: o consumo em geral e a moda em particular têm muito de irracional: o tabaco também mata, não é?


À margem

Steuben_-_Mort_de_Napoleon.jpg

Ao longo da história muitas foram as figuras públicas que sucumbiram ao arsénio. Charles Darwing poderá ter sido uma destas vítimas, pois tomava regularmente a solução Fowler, um medicamento que o ajudava a controlar a tremura das mãos, mas que deixava severas marcas - nomeadamente o desenvolvimento de cancro em quem o consumia de forma continuada - e que só foi proibido nos anos 50 do século XX. Napoleão, sabe-se agora, morreu por envenenamento de arsénio para o que muito terá contribuído o facto de ter coberto as paredes da casa onde passou os seus últimos anos, na ilha de Santa Helena, com papel de parede verde como os prados da sua amada França.

morte de d joao vi.jpg

Outra vítima do mesmo veneno, mas esta, ao que tudo indica, deliberada, foi o nosso D. João VI, precisamente o único rei que enganou Napoleão, ao fugir para o Brasil antes da sua chegada. Análises recentes mostraram uma concentração de arsénio 130 vezes superior ao normal nas vísceras do rei, guardadas no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Estavam, tal como os órgãos de outros monarcas portugueses, em orifícios no pavimento da capela dos Meninos de Palhavã, os bastardos de D. joão V.
Mas isso é outra história...

 

Fontes
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/22040/1/O%20verde%20que%20não%20era%20esperança%20-%20versão%20submetida.pdf


https://www.publico.pt/2000/06/02/jornal/quem-matou-d-joao-vi-144687

https://redes.moderna.com.br/2017/02/06/napoleao-morto-por-um-papel-de-parede/


Imagens

Georg Friedrich Kersting [Public domain], via Wikimedia Commons - A Bordadeira, 1817. Pintura de Georg Kersting, atualmente propriedade do Museu Nacional da Varsóvia.
https://www.housedecorinteriors.co.uk/wallpapers/mor210429_golden_lily_wallpaper_indigo_william_morris_and_co_compendium_ii_wallpapers_collection/#.XEzMFPZ2tdg
http://www.jleo.site/read/1056
https://www.gaudions.com.au/products/william-morris-wallpaper-the-brook
Por Claude Monet - Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=132134

Por Charles de Steuben - Carl von Steuben, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=30478

Ilustração de Jaime Martins Barata, em Grandes Reportagens de outros tempos, de Amador Patrício, Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 1938, disponível em: http://www.tribop.pt/TPd/18/2/3/1/10

 

 

A trágica história de um amor contrariado em Alcácer do Sal

casal.JPG

 

O que impediria a união de Luís e Laura? E quem eram estes jovens que, no final do verão de 1912, decidiram por termo à vida numa casa da rua da praia, deixando a então vila de Alcácer do Sal desolada por tão inesperado e triste fim.

Há pouco mais de cem anos, Alcácer do Sal foi surpreendida por uma tragédia que passou de boca em boca, de geração em geração, ainda hoje sendo recordada pelos mais velhos. Um jovem casal decidiu morrer por ver o seu amor contrariado. Tal como Romeu e Julieta da narrativa criada por William Shakespeare, pertenciam a famílias ilustres da terra, que terão impedido a sua união. Os infelizes chamavam-se Luís e Laura.

avenida joao soares branco.JPG

 

Eram oito da manhã do dia 17 de setembro de 1912. O dia amanhecia ameno quando alguém - cuja identidade não é revelada - encontrou os dois apaixonados já sem vida. Ela, reclinada num sofá. Ele, no chão a seus pés. As cartas que deixaram à família explicaram tão drástica decisão: não podiam suportar os entraves que se colocavam ao seu enlace. Se não podiam permanecer juntos, então, não queriam viver.


Pode pensar-se que os jovens apaixonados apenas pretendiam chamar a atenção  e faleceram por acaso, mas Luís e Laura, certamente vendo esgotadas as esperanças de poder casar, quiseram, efetivamente, morrer.

 

P1010004.jpg

Isto é provado pelos vestígios encontrados naquela casa da rua da praia*.

Primeiro tentaram envenenar-se com sublimado corrosivo, uma substância altamente tóxica. Cada um terá tomado quatro pastilhas, cujos dolorosos efeitos os terão lançado em grande sofrimento.

Depois, consumaram o ato a tiro de revolver. Os ferimentos à queima roupa, na zona do coração, foram fatais.
Tantos anos passados, continua a ser triste pensar que estas vidas se tenham perdido tão precocemente – Laura tinha apenas 21 anos de idade e Luís era três anos mais velho.


Mas, porque era impossível o seu casamento? E quem eram afinal estes jovens?


Os jornais da época dizem que eram “muito estimados” e tinham “relações de parentesco com as principais famílias da terra”, tanto que o funeral de Laura Branca de Paiva Portugal foi acompanhado por muita gente, contando com a presença de indivíduos de importância, como o juiz de direito, o delegado, o tesoureiro das finanças e o presidente da Câmara. Luis Inácio de Paiva seguiu para o cemitério de Alcáçovas, de onde era natural.
Contrariamente ao que os nomes possam induzir, não eram parentes próximos, o que exclui esse como motivo para a impossibilidade da união – até porque, entre famílias abastadas, a consaguinidade nunca foi um entrave quando se tratava de aumentar património através de matrimónios convenientes.
Laura era filha de Victor Eduardo da Mota Portugal da Silveira, empregado público em Alcácer do Sal, promovido para África, onde chegaria a ser presidente de câmara (Moçambique) e gestor de roças em São Tomé. A mãe era Clotilde Eugénia de Paiva, filha do escrivão de direito Joaquim Maria Machado de Paiva.
Uma família influente, sem dúvida, com uma vida desafogada, certamente, mas nada que se pudesse comparar à de Luís Inácio de Paiva – sucessor de avô e pai com o mesmo nome – grandes proprietários do concelho de Viana do Alentejo. Em 1886, um ano antes do nascimento de Luís, eram atribuídas ao seu pai as herdades de Valongo, Outeiro e Minas.
A mãe era Maria Augusta Branco de Paiva, filha e herdeira de outro grande proprietário, mas de Alcácer do Sal: João Alves de Sá Branco, (já falei do seu assassinato aqui), que somava ao poderio económico, a influencia política. Foi uma das mais importantes e ricas figuras alcacerenses do seu tempo, membro de um clã do qual fazem parte, por exemplo, nomes tão conhecidos como João Branco Núncio (neto) e os médicos Francisco e José Gentil (sobrinhos-netos).
Terá esta desigualdade de origens ditado a oposição ao amor dos dois? Estaria qualquer um deles prometido a outrem, como era hábito na época entre famílias de posses? É possível que nunca se saiba, ou talvez, um dia, de uma gaveta poeirenta se resgatem as cartas deixadas pelos tristes Luís e Laura e se conheçam as razões desta desgraça que marcou as suas famílias para sempre.

À margem

pedro e ines.JPG

Em todas as épocas há relatos de amores contrariados que terminaram mal. A literatura espelha essa realidade em múltiplas histórias inventadas, sendo a narrativa Romeu e Julieta, de William Shakespeare, provavelmente a mais recriada e reinterpretada à escala global.

Em língua portuguesa, destaca-se o Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, ele próprio um amante desditoso durante muito tempo.
As classes mais desfavorecidas tinham, neste campo, talvez a sua única vantagem face aos ricos e poderosos, libertos que estavam de compromissos tendentes a manter e angariar terras, fortunas e influências.
Entre as camadas mais afortunadas da população, os laços matrimoniais decidiam-se pesando todas essas condicionantes e eram para manter pelas mesmas razões. O problema era quando os corações falavam mais alto e os espartilhos familiares, políticos e sociais não o aceitavam. O drama mais conhecido entre nós é o de D. Pedro I e de Dona Inês de Castro (na imagem), com as consequências nefastas que se conhecem: ela assassinada a mando do pai dele e ele para sempre infeliz, chorando a sua amada. Embora aqui, como se sabe, existisse ainda outra limitação praticamente intransponível naqueles tempos (séc. XIV): D. Pedro já era casado quando se apaixonou por Inês.
Mas isso é outra história…

..........

*A casa, sabe-se agora, era a que existia mesmo ao lado do edifício da Sociedade Filarmónica Amizade Visconde de Alcácer (Calceteira), hoje substituída por outra. No pavimento da sala onde a tragédia se deu, permaneceu uma mancha de sangue que, apesar das muitas tentativas, nunca ninguém conseguiu fazer desaparecer.

Nota: a imagem do casal aqui presente é meramente indicativa da idade e da época, não representa os envolvidos nos factos relatados.

...........
Fontes
Hemeroteca Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/
Jornal A Capital
17 set. 1912
19 set. 1912

Registos Paroquiais – Paróquia de Santiago, Alcácer do Sal, 1912

Portugal Antigo e Moderno – Diccionário geográfico, estatístico, chorográphico, heráldico, archeológico, histórico, biográfico, e etymológico, de todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal e de grande número de Aldeias, de Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal; Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, Lisboa, 1886. Disponível em:
https://archive.org/details/gri_33125005925355/page/n161


https://geneall.net/pt/

Imagens

www.pinterest.com

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cloreto_de_mercúrio(II)

http://laninhadelexorcista.blogspot.com/2011/07/de-abortos-y-hallazgo-de-fetos.html

www.ensina.rtp.pt