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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

Estranhas entranhas dos reis de Portugal

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Restos mortais não identificados, túmulos vazios, ossadas mudadas várias vezes, “penetras” em sepulcro alheio e as vísceras de alguns reis de Portugal são alguns dos segredos mal guardados do Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.

 

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Por onde quer que se caminhe, em São Vicente de Fora, é inevitável que pisemos lajes de sepultura. Na antiga sacristia, ossadas desconhecidas “espreitam” por uma janela no pavimento e, na maior parte das pedras tumulares, o tempo encarregou-se de apagar a gravação que identificava o ocupante daquele espaço. Depois, há os locais especiais, que albergam os restos mortais dos indivíduos mais importantes do antigo reino de Portugal e, à parte, as suas vísceras.

A velha sala do Capítulo, onde os monges se reuniam, acolhe agora os patriarcas de Lisboa, que ali têm o seu sepulcro desde D. Carlos da Cunha e Menezes (1759-1825).

Duas câmaras guardam os restos mortais dos Bragança.

sepulturas legitimados de d joao v.JPG

 

Na primeira – a mais modesta - estão dois (D. António e D. José) dos três bastardos que D. João V reconheceu como seus – os denominados “meninos de Palhavã”.

Se ali estivessem todos os filhos ilegítimos da família – ou de qualquer dinastia, entenda-se - não caberiam em tão exíguo mausoléu.

Por debaixo dos nossos pés, escapando a uma visita menos atenta, estão enigmáticos quadrados em mármore de várias cores com inscrições em latim.

coracao e visceras de d joao VI d joao V e d jose

 

É preciso ver com atenção para perceber que ali se guardam as entranhas de reis de Portugal. Corações e vísceras de D. João V, D. José I e D. João VI (Imperador e rei); ainda D. Pedro III e Augusto, Príncipe de Beauharnais, reis consortes, respetivamente, de D. Maria I e de D. Maria II.

coracao e visceras de d pedro II e do primcipe aug

Estas lajetas escondem os órgãos internos de alguns dos ocupantes mumificados que repousam a pouca distância, no panteão dos Bragança. Estão conservados em formol, no interior de potes cerâmicos.

Embora retirados durante o processo de embalsamamento, eram despojos dos monarcas e, logo, não poderiam descartar-se de ânimo leve. Foram assim depositados em solo sagrado, mas não junto aos seus legítimos proprietários.

Entrada do Panteão da Dinastia de Bragança na ac

Dir-se-ia que, tal como as crianças fruto de relações extraconjugais eram filhos, mas não aceites como iguais aos legítimos, também as vísceras, embora pertencendo ao corpo de onde foram extraídas, não eram suficientemente puras para figurar no mesmo espaço.

Poderia pensar-se que, então, que no panteão dos Bragança só estariam os mais importantes elementos desta estirpe, mas também essa apreciação não é correta, porque as coisas raramente são o que parecem.

 

Para começar, logo no corredor de acesso, estão, por assim dizer, dois “penetras”: os Duques de Terceira** e o Duque de Saldanha***, com especial autorização para partilhar as mesmas paredes que o clã real, privilégio resultante dos altos serviços prestados, enquanto “heróis do liberalismo”.

tumulo de d joao iv.jpg

 

Já na grande sala, no pavimento, revelado apenas para quem percebe latim e ofuscado pelo exuberante túmulo de D. João IV, está o coração do Marquês de Marialva****.

O seu corpo não podia estar naquela câmara, mas encontrou-se forma de ali instalar o âmago daquele nobre que até na morte seguiu o restaurador, quiçá com o intuito de o ajudar em outras conquistas além-vida.

coracao marialva.jpg

 

Durante cerca de meio século, sem qualquer ligação direta à família real portuguesa, ali estiveram também os restos mortais de Carol II da Roménia. Em 1953 morreu num exílio ensolarado, no Estoril, e só em 2003 se transferiu para o seu País.

Há ausências notadas na sala. Entre elas, D. Maria I, que morreu no Brasil, mas está sepultada na Basílica da Estrela, que ela própria mandou erigir. D. Pedro IV (I do Brasil), embora tenha o seu lugar assinalado em São Vicente de Fora, efetivamente, encontra-se em S. Paulo...Bem, não todo, porque uma parte do “pai” da Carta Constitucional ficou cá. (ver À margem)

O seu filho, D. Pedro II, e a mulher deste, foram igualmente trasladados para o outro lado do oceano, em 1921.

panteáo dos bragança antes de 1933 (2).jpg

Como em todas as famílias, há os indesejados. Aqueles que, embora sejam sangue do nosso sangue, queremos ver longe. Assim foi com D. Miguel, proscrito e banido – tal como os seus descendentes - depois de todas as manobras para ser rei.

Sanadas as questões do passado, os seus restos mortais tiveram permissão de ali descansar, mas só a partir de 1967.

No entanto, tinha sido já no reinado de D. Fernando II que o antigo refeitório do mosteiro foi promovido a sepulcro dos Bragança. Antes, os “eleitos” estavam acomodados na Igreja.  Nos anos 30, Raul Lino foi o autor da nova organização e da atual aparência dos túmulos.

a dor chorando sobre os tumulos.jpg

 

Entre tantos reis jazentes, há uma única figura que se destaca.

Uma mulher chora em silêncio a morte – prematura e violenta – de D. Carlos e de D. Luís Filipe, ajoelhada junto aos seus túmulos. Não se lhe vê a cara, coberta pelas mãos.

De forma perturbadora, no entanto, percebe-se-lhe bem a DOR, título desta obra escultórica de Francisco Franco.

 

 

a dor sobre os tumulos de d carlos e d luis filipe

 

À margem

d pedro IV (2).JPG

Praticamente todas as movimentações (trasladações e exumações) efetuadas aos restos mortais dos nossos reis e respetivas famílias estão documentadas em autos guardados na Torre do Tombo, que também recebeu as chaves dos caixões e das urnas com os reais despojos. Nessa documentação conta-se igualmente como o corpo de D. Pedro IV seguiu para o monumento do Ipiranga (Cripta do Parque da Independência), em São Paulo, onde jaz desde 1972.  

O seu coração, no entanto, está na Igreja da Irmandade da Lapa, no Porto, numa homenagem feita a pedido do próprio monarca, no seu leito de morte, pelo papel daquela cidade e dos portuenses durante a guerra civil entre liberais e absolutistas.

 

coracao de d pedro iv2 (2).JPG

 

Foi no Porto que D. Pedro e as suas tropas resistiram cercados pelos partidários de D. Miguel, que acabariam por derrotar. As cinco chaves necessárias para chegar a esta relíquia são conservadas pelo presidente da Câmara da “cidade invicta”.

No Brasil, por outro lado, o que resta de D. Pedro e das imperatrizes Maria Leopoldina e Amélia Augusta (é a sua múmia que vemos na imagem 1) foi exumado e analisado por especialistas, em 2012.

d pedro IV no leito da morte (2).JPG

 

Isto serviu para saber que monarca tinha algumas costelas partidas e um pulmão severamente afetado, pelo que terá sofrido longamente de graves problemas respiratórios.

Serviu também para desmentir que D. Leopoldina tivesse qualquer fratura resultante de uma queda provocada pelo marido que as más-línguas asseguravam que teria sido a causa da sua morte.

Mas isso é outra história…

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aqui antes falei dos filhos ilegítimos de D. João V

 

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*D Gaspar também foi legitimado, mas repousa em luxuoso túmulo na sé de Braga, condicente com a posição de arcebispo, que assumiu durante 31 anos.

** António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha e a segunda mulher, Maria Ana Luísa Filomena de Mendonça

*** João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun

**** António Luís de Meneses, também conhecido como “o libertador da Pátria"

 

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Fontes

Visita guiada por Joana Santos Coelho ao Mosteiro de São Vicente de Fora

Arquivo Nacional Torre do Tombo

O Panteão Nacional e outros mausoléus na Torre do Tombo | Arquivo Nacional Torre do Tombo (dglab.gov.pt)

Jornal Público

Restos mortais do rei Carol II deixam hoje Lisboa | Regressam à Roménia | PÚBLICO (publico.pt)

Revista Visão

Visão | O coração de D. Pedro IV (sapo.pt)

 Pedro IV e o seu Coração - Vídeo Oficial - YouTube

Coração de D Pedro IV foi retirado da Igreja da Lapa - YouTube

As exéquias de D. Gaspar de Bragança na Sé de Braga (um desenho inédito de Carlos Amarante), de Isabel Mayer Godinho Mendonça; Revista da Faculdade de Letras - Ciências e Técnicas do Património ; Série vol. III, pp. 255-270 - Porto, 2004. Disponível em: Patrimonio_III (up.pt)

 

Pedro II do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Pedro I do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

 

Gaspar de Bragança – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Google tradutor -.Latim/Português

 

Imagens

Fotografias da autora

 

Arquivo Municipal do Porto

http://gisaweb.cm-porto.pt/

Código parcial F.NP:CMP:7:1645

Código parcial F.NV:FG.M:7:85

Código parcial F.NV:FG.M:7:162

 

Arquivo Municipal de Lisboa

 (cm-lisboa.pt)

Paulo Guedes

PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/NUN/000240

 

Panteão Real dos Braganças - A Monarquia Portuguesa (sapo.pt)

 

Panteão da Dinastia de Bragança - Wikiwand

Exumação de corpos de D. Pedro I revela novos detalhes da famíila real (camacarifatosefotos.com.br)

Instantâneos (78): presa por ter cão…

 

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Cavalos e, sobretudo, cães fizeram parte do quotidiano da família real composta por D. Amélia, D. Carlos e os dois filhos, mas as coisas nem sempre são o que parecem. A cena caseira que aqui vemos foi captada em 1909, um ano após o regicídio, e apresenta-nos, a rainha e o já então rei D. Manuel II, no Palácio da Pena. Um e outro foram alvo da encarniçada luta política que censurava praticamente todos os seus passos. Na gíria popular, dir-se-ia que eram presos por ter cão e também por não o ter.

Foi assim com Dona Amélia de Orleãs praticamente desde que pisou solo português, naquele longínquo mês de maio de 1886, com apenas 20 anos de idade.

Passado o estado de graça, a ainda princesa terá sido amada pelo povo que a acolheu e perante cuja pobreza tanto se condoeu, mas seria arrastada para o lamaçal político de uma monarquia em fim de era, em que tudo era criticável e condenável.

“A rainha era católica, logo a maldade fez dela depreciativamente uma beata; a rainha era francesa, pois os belos espíritos a tornaram numa hipócrita; a rainha era uma mulher de impressionante beleza, pois então a calúnia tinha necessariamente de a abocanhar na honra de senhora e de esposa de el-Rei (…); a rainha era mãe enérgica e firme na condução dos filhos, (…) isso mesmo a vilania tinha de a fazer dura e fera para com os próprios filhos; a rainha era caritativa e esmoler, não podia, pois, deixar de ser acusada de esbanjamento e prodigalidade…”. À distância de meio século, foi assim que, numa sessão parlamentar, se resumiu a má língua enfrentada pela família real e que não corria só pela rua, como chegou a ter ecos bem perversos e injuriosos até entre os deputados.

Mas, palavras leva-as o vento, por mais dolorosas que tenham sido quando ouvidas.

As imagens ficam e, nesta, D. Amélia e D. Manuel II, também alvo de grandes infâmias, estão ainda de luto, mas parecem em paz, rodeados pelos três cães de companhia:  Tejo, o grand danois que vemos em destaque; Chamrock, o labrador que recebe festas da soberana, e Box, a cadela irish terrier que, face à pressa e precipitação da saída da família real do País, a 5 de outubro de 1910, escorraçada pela implantação da República, ficaria em Mafra, o que muito entristeceu D. Amélia.

Mesmo entre os animais, a paz era meramente aparente, já se vê.

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Fontes

https://plataformacidadaniamonarquica.wordpress.com/2017/04/06/familia-real-portuguesa-e-os-animais-de-estimacao/

Debates Parlamentares - Diário 008, p. 93 (1965-12-14) (parlamento.pt)

Intervenção do deputado à Assembleia Nacional, José Manuel da Costa.

https://monarquiaportuguesa.blogs.sapo.pt/familia-real-portuguesa-e-os-animais-de-462421

Lavradores importantes em defesa do porto de Alcácer

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Queriam que D. João VI fechasse os portos privados existentes ao longo do Sado e defendiam a instalação de indústria em Vale de Guizo, Arapouco e Algarvios.

 

Há 199 anos. Um grupo de importantes proprietários de Alcácer do Sal resolveu escrever uma carta ao rei para expor o que, a seu ver, era necessário fazer para que esta terra se tornasse um dos mais importantes interpostos comerciais do País. Na sua opinião, isso ainda não tinha acontecido devido à ganância dos armazenistas privados existentes no concelho, que deviam ser impedidos de funcionar, porque retiravam movimento ao porto da então vila.

O rei era D. João VI, recentemente regressado do Brasil, e os ilustres alcacerenses, cuja relevância se perdeu na poeira do tempo, eram António de Mattos, Joaquim Soares Roza, José Rodrigues de Alves, António da Costa Pacheco e Joaquim José de Sá Borges.

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No documento, datado de 12 de janeiro de 1822, elogiam a muito vantajosa localização de Alcácer para a transação, tanto de géneros próprios da província do Alentejo e de Espanha - que eram consumidos em Lisboa - como de produtos coloniais para consumo no interior. Mesmo sem qualquer intervenção do governo, diziam, “a porta de Alcácer” já era um dos mais movimentados locais no que tocava aos cereais em grão, transportados através do rio Sado.

Entendiam que o comércio não era ainda mais vantajoso, porque os proprietários de Porto Rei e dos portos de S. Bento, Pocinho e Barrosinha recolhiam os bens ali descarregados, “cobrando tarifas que os mesmos impuseram”, “usurpando tributos de portagem só pelo simples ato de se carregarem e descarregarem nas margens do rio”, subtraindo esses valores “aos direitos reais e nacionais”, que os poderiam cobrar. Por este motivo, recomendavam que “os monopólios e as propriedades particulares deveriam desaparecer”, porque recebiam taxas que deveria ser a coroa – o bem público - a arrecadar. A situação então vivida também prejudicava os carreiros e os almocreves, que, fazendo vida do transporte de mercadorias, estavam dependentes das quantidades existentes nesses portos privados.

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Todo o comércio deveria então ser concentrado no porto da vila, podendo os cereais e outros géneros movimentar-se “sem se pagar coisa alguma”, cobrando-se apenas “por convenção o que cada um quisesse recolher nos armazéns” estatais.

Para contribuir para o sucesso dessa decisão, defendiam também o arranjo de estradas de ligação a Évora e Beja, e que se extinguissem alguns impostos e taxas locais, pois pretendiam “entradas e saídas francas”, bem como “ampla liberdade de comprar o que se quiser e como se quiser”.

Noutro campo, sugerem que os sapais desocupados deviam ser cultivados – prevenindo as águas paradas que prejudicavam a saúde da população – e apontavam as zonas de Vale de Guizo, Arapouco e Algarvios como excelentes para a instalação de fábricas, devido à abundância de água e de lenha, condições ideais para a produção de “vidros, cutelaria, ferragens, papel ou mesmo lanifícios e algodões”.

Desconhecemos se esta carta chegou a bom porto, ou se foi, de alguma forma, atendida com decisões reais. Sabemos que, nesse mesmo ano, a expensas da população alcacerense e fazendo uso de um imposto sobre o vinho, se levaram por diante obras nas estradas de acesso ao interior, mas também sabemos que, cerca de quatro décadas depois, entrou em funcionamento a linha de caminho-de-ferro do Alentejo, que retirou de Alcácer uma enorme fatia das mercadorias que aqui antes se escoavam através do rio, lançando o comércio local num declínio de que só viria a recuperar com o desenvolvimento da lavoura resultante das barragens e consequente plano de rega do Vale do Sado, em meados do século XX.

 

À Margem

Alguns importantes da terra, como se viu, contestavam que os senhores dos portos ao longo do Sadão (hoje Sado) dispusessem do rio como sendo seu. Menos de 20 anos após estes acontecimentos, Manoel Rodrigues Teixeira Pena, conseguiu autorização real para ter ainda mais poderes.

Em 1840, apesar de alguma renitência inicial da rainha, já então D. Maria II, aquele empreendedor obteve licença para construir, à sua custa e em terreno seu, uma ponte junto ao porto de São Bento, no concelho de Alcácer do Sal, com permissão para, durante quarenta anos. cobrar portagem a quem a quisesse utilizar.

As únicas exceções eram os “expressos do Governo, os condutores das malas do correio e os militares em serviço”. Todos os outros cidadãos pagavam 20 reis, mas se fossem a cavalo o trajeto custava mais 40 reis.

Iniciativas como a de Manoel Rodrigues Teixeira Pena, em que particulares se propõem levar por diante obras públicas, tornar-se-iam muito comuns, pois os cofres nacionais não tinham meios próprios para tal.

Quando, em 1843, o Governo assumiu o propósito de construir uma rede de estradas que, a partir de Lisboa, unisse o País de Norte a Sul, estipulou logo uma série de expedientes para obter o dinheiro necessário, começando pelo aumento de impostos. Os valores arrecadados, no entanto, não davam nem para começar, pelo que foi constituída a Companhia das Obras Públicas de Portugal. De pública, só tinha o nome, porque era constituída por um grupo de poderosos capitalistas que, como tantos depois deles, se substituíam ao Estado, cobrando muito e recebendo numerosos benefícios por isso.

Mas isso é outra história…

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Nota: as imagens são meramente ilustrativas de Alcácer do Sal, mas não correspondem à época retratada.

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Fontes

Arquivo Municipal de Alcácer do Sal

Carta a D. João VI sobre o porto de Alcácer do Sal

PT/AHMALCS/CMALCS/JJR/02/02/001

Imagens

PT/AHMALCS/CMALCS/FOTOGRAFIAS/02/01/0063

PT/AHMALCS/CMALCS/FOTOGRAFIAS/02/01/0064

PT/AHMALCS/CMALCS/FOTOGRAFIAS/02/01/0066

 

Arquivo Histórico do Ministério Público

https://arquivohistorico.ministeriopublico.pt/

Parecer do Procurador Geral da Coroa, José Cupertino de Aguiar Ottolini, relativa à proposta de construção de uma ponte sobre o Rio Sado, por conta da Câmara Municipal de Alcácer do Sal.

PT/AHPGR/PGR/05/01/05/038

 

Biblioteca da Universidade do Michigan

Colecção de Leis e Outros Documentos Officiaes publicados no ano de 1840; 10ª série, Edição oficial; Imprensa Nacional; 1840 – Lisboa. Disponibilizado em

Colecção oficial de legislação portuguesa - Portugal - Google Livros

 

A Companhia das Obras Públicas de Portugal, de Maria Eugénia Mata; in Estudos de Economia Volume XIX, nº1, inverno 1999. Disponível em: 303770861.pdf (core.ac.uk)

 

(14) Instantâneos: O “Cristo das trincheiras” e a abóbada

 

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Em 1918, durante muitos dias, um insólito cruzeiro com a imagem de Cristo, existente próximo de Neuve-Chapelle, na Flandres Francesa, fez companhia às tropas portuguesas ali estacionadas. Foi alvo de devoção, serviu de cenário a fotografias, “ouviu” preces e, de certa forma, velou pelos homens que aguardavam mais um confronto. A batalha de La Lys* deu-se a 9 de abril e foi fatal.

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Toda a zona foi bombardeada, remexida, destruída pelo fogo inimigo. No fim, pouco mais restavam que cadáveres, homens agonizantes, escombros e…entre tanta devastação, o Cristo, também ele mutilado, como muitos dos que combateram. O fogo alemão perfurou-lhe o peito, levou-lhe as pernas e parte do braço direito, mas deixou-o ali, ainda erguido, como um sinal de sobrevivência.

Há exatamente cem anos, esta batalha da I Grande Guerra, constituiu talvez a mais negra página da história bélica do nosso País, depois de Alcácer Quibir. Os militares do Corpo Expedicionário Português foram arrasados pelas tropas alemãs, milhares morreram, ficaram feridos ou foram aprisionados.

O “Cristo das trincheiras”, terá sido depois recolocado no espaço que lhe pertencia e onde permaneceu mais duas décadas.

Em 1958, por iniciativa do Governo português, rumou a terras lusas e, igualmente a 9 de abril - há exatamente 60 anos - em cerimónia muito ao estilo do Estado Novo, foi instalado no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, à cabeceira do túmulo do Soldado Desconhecido, que representa todos os que pereceram a lutar pela pátria e cujo nome se desconhece.

Ironicamente, aqueles símbolos de derrota e perda estão no interior de um monumento que celebra uma grande vitória nacional e sob uma abóbada que, reza a lenda, também se manteve de pé devido à fé.

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A homenagem ao soldado desconhecido, composta por túmulo de dois militares – um morto na  Flandres e outro na África portuguesa  -, grandioso lampadário denominado “chama da pátria” e o “Cristo das trincheiras”, tem guarda de honra permanente e situa-se na Casa do Capítulo do “Mosteiro da Batalha”, edificado para celebrar o triunfo em Aljubarrota (1385).

Sobre o memorial, ergue-se a colossal abóboda que desafia as leis da física e, conta o historiador Alexandre Herculano*, foi desenhada pelo mestre Afonso Domingues. Quase cego, às portas da morte, mas com uma crença inabalável no seu projeto, permaneceu sozinho por debaixo da abóboda, quando mais ninguém acreditava que esta se manteria intacta após retirarem as escoras. Ainda lá está. O Cristo também.

 

*A batalha deve o nome rio junto ao qual tiveram lugar os acontecimento.

**Embora a moderna historiografia não o confirme, atribuindo a obra ao mestre irlandês David Huguet.

 

 

 

 

Fontes

http://www.momentosdehistoria.com/MH_06_05_Patriotismo.htm

http://www.mosteirobatalha.gov.pt/pt/index.php?s=white&pid=176

http://capeiaarraiana.pt/2015/04/04/efemerides-2015-4-de-abril/

http://portugalglorioso.blogspot.com/2014/03/o-cristo-das-trincheiras.html

https://www.erepublik.com/mk/article/cristo-das-trincheiras-2436880/1/20

O verdadeiro Capitão Roby não era um burlão sedutor

 

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A sua morte também dava um filme, mas acabou quase esquecida, entre as muitas que Portugal sofreu ao defender as suas possessões em África.  Os dois irmãos Roby queriam ser heróis.

 

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Sabe quem era o capitão Roby? Provavelmente responderá que foi um pinga-amor célebre nos anos 80 do século XX por, alegadamente, ludibriar as suas apaixonadas, façanha que até valeu uma série televisiva baseada na sua vida. O problema é que o verdadeiro Capitão Roby, que poucos conhecem, nada teve que ver com tais proezas, embora a sua vida - ou antes, a sua morte - também pudesse dar um filme, muito menos picante, mas bem mais trágico. Há exatamente um século, os seus restos mortais chegavam a Portugal, quase ao mesmo tempo que os do Soldado Desconhecido, que bem podia representar.

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Em março de 1921, o capitão Sebastião Luiz de Faria Machado Pinto Roby de Miranda Pereira, regressou à metrópole como herói, embora morto, a bordo do navio “Zaire”, para finalmente repousar na sua terra natal, Braga. Tinha sucumbido quase seis anos antes, numa emboscada ocorrida em Angola, que as crónicas da época classificam como um autêntico massacre. Tinha apenas 31 anos de idade e participava nos esforços portugueses para defender o seu “Império” face à ameaça alemã, ainda antes da entrada oficial do nosso País na I Grande Guerra.

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Estava em África na coluna do general Pereira d’Eça e liderava uma companhia indígena. Ofereceu-se para levar por diante uma operação de reconhecimento extremamente arriscada e que implicaria a mais que provável chacina do grupo que a empreendesse.

Tratava-se de verificar as condições de um trilho importante para a movimentação das tropas, na província do Huila. Isto obrigava a uma incursão em área conhecida pelo terreno inóspito e os povos revoltosos.

O seu superior não o queria expor a tal perigo, dada a sua patente, ao que Sebastião terá respondido que “quando se serve a pátria não há postos, mas apenas deveres a cumprir”.

Face a tal determinação, seguiu comandando vinte homens, entre os quais um cabo. Não levavam bússola, o que terá contribuído para se afastarem da rota inicial e se irem colocar precisamente “na boca do lobo”, na zona de Quiteve.

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Corajoso, confiante na sua missão pacífica e na reduzida dimensão do seu grupo, que achava não inspirar animosidade, Roby não soube reconhecer os sinais de perigo real ao ser sucessivamente abordado por indígenas.

Quando se deu conta, já era tarde.

O Capitão ainda deu ordem de fogo e disparou alguns tiros, mas caiu fulminado no chão, trespassado por uma bala que lhe entrou pelas costas.

Os atacantes pediram então as armas, as munições, os animais e o corpo de Roby. O temerário cabo, que passou a ter a voz de comando, recusou as exigências, fez atar o cadáver do Capitão a um dos camelos, como se estivesse vivo, e ordenou fogo, em nome daquele.

A ordem repetir-se-ia várias vezes, até estarem a salvo, dez horas e 40 quilómetros depois. Chegaram exaustos, mas apenas perderam um homem pelo caminho.

Sebastião Roby, Capitão de Artilharia, feito mártir nesta contenda em que perdeu a vida, a 10 de junho de 1915, receberia a Cruz de Guerra de 1ª classe, a título póstumo.

Seria também homenageado, num monumento em Braga e na toponímia de várias cidades, aliás como o seu irmão João, segundo tenente e também “herói” da nossa guerra em África.

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Mais velho, experiente e já amplamente condecorado, João Roby morrera uma década antes, na mesma região angolana e igualmente em resultado de uma ação voluntariosa, participando no que ficou conhecido como “o desastre do vau de Pembe”, perto do rio Cunene, onde pereceram 300 homens.

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A campanha onde tal mortandade aconteceu destinava-se a submeter os líderes tribais e antecipar a reivindicação alemã de territórios, em resultado do acordo luso-germânico de 1886, que redefinia a fronteira com a atual Namíbia, mas que, no terreno, ainda não tinha sido efetivamente traçada.

Não era suposto João participar nesta operação, porque, depois de servir durante muito tempo e com louvor, estava de regresso à metrópole, de licença.

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Soube do projeto durante a escala em Luanda e, tanto pediu e insistiu, que o deixaram integrar o contingente.

Há muitas versões contraditórias sobre o que efetivamente aconteceu nesse dia 25 de setembro de 1904, particularmente sobre a atividade de Roby, amiúde engrandecido de forma épica.

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Certo é que morreu no decorrer da ação e, ao contrário de Sebastião, os seus restos mortais nunca foram identificados. Tinha 28 anos.

Em Moçambique, a sua cara foi usada num selo e, em 1973, a Armada Portuguesa, onde havia servido, deu o seu nome a uma corveta.

 

À Margem

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Há cem anos, vários países entenderam que deviam prestar homenagem ao “soldado desconhecido”, simbolizando todos os que haviam tombado pela Pátria ao longo dos tempos sem que os seus corpos fossem recuperados e identificados. Foram criados monumentos, túmulos representativos em honra desses “heróis” aos quais as nações, simbolicamente, devem, muitas vezes, as suas fronteiras e a sua autonomia. Em Portugal, em 18 de março e em 9 de abril de 1921, o Governo autorizou a trasladação dos restos mortas de dois soldados desconhecidos, respetivamente, de França (Flandres) e África (Moçambique), para o Mosteiro de Santa Maria da Batalha, onde teve lugar a cerimónia de consagração da Sala do Capítulo como panteão do “soldado desconhecido” português.

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É um espaço sóbrio, que apela à introspeção, com permanente guarda de honra, onde se encontra o “Cristo das Trincheiras”, trazido do local onde tantos portugueses morreram na I Grande Guerra (Neuve-Chapelle – França).

Ali perto, no antigo refeitório, está agora instalado o Museu da Oferendas ao Soldado Desconhecido, onde figuram muitos objetos, entre os quais, a última bandeira portuguesa arreada de Macau em 1999, pelo último governador, Rocha Vieira, símbolo do último reduto do “Império” por cuja conquista e manutenção tantos sacrifícios se fizeram e inúmeras vidas se perderam. Precisamente como naquela que ficou conhecida como a Batalha de Macau, em 1622. Foi a única contenda significativa travada por tropas de países europeus nos mares da China e na qual os portugueses, em inferioridade numérica e de meios, levaram a melhor sobre os holandeses.

Mas isso é outra história…

 

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Já aqui antes falei da trágica participação de Portugal na I Grande Guerra:

Instantâneos (52): a desolação feita obra de arte - O sal da história (sapo.pt)

A tragicomédia do soldado João Ninguém na I Grande Guerra - O sal da história (sapo.pt)

(14) Instantâneos: O “Cristo das trincheiras” e a abóbada - O sal da história (sapo.pt)

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Fontes

Hemeroteca Digital de Lisboa

http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

Illustração Portugueza

II série; nº787 – 19 març. 1921

 

Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro

2ª série; nºs 10 e 11 – ago/dez 1934

 

Boletim da Agência Geral das Colónias

Ano VIII; nº71; mai 1931

Disponível em: https://espace.cdu.edu.au/eserv/cdu:6586/AraDA_6586.pdf

 

João Roby e o desastre do Vau de Pembe (Angola, 1904): um herói, um mártir, más táticas, as circunstâncias imprevistas… e alguma inabilidade – Autópsia de uma derrota militar; Investigação de João Freire, realizada no âmbito da Academia de Marinha – Lisboa 2017

Disponível em: Livro J.Roby.pdf (marinha.pt)

 

Soldado Desconhecido (momentosdehistoria.com)

Soldado Desconhecido - Mosteiro da Batalha (mosteirobatalha.gov.pt)

 

 

Imagens

5330333_UCc8U.jpeg (163×202) (sapo.io)

 

Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Por Joseolgon - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0,

Battle of Macau, 21-24 June 1622. Portuguese repel Dutch attack..

Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=168652

 

Portugal na Grande Guerra. Desnorte, doença e descalabro – Observador

Selo Joao Roby

1967 - João Roby (selomania.com.br)

 

Academia Militar - Sebastião Luiz de Faria Machado Pinto Roby de Miranda Pereira

 

 www.geni.com)

A mulher que salvou o palácio de Joe Berardo

orlena scoville na quinta da bacalhoa.JPG

 

A americana resgatou o espaço ao abandono e à incúria a que tinha sido votado por muitas décadas e albergou entre as suas históricas paredes crianças fugidas dos horrores da guerra e da perseguição.

 

quinta da bacalhoa 1942-44.jpg

Orlena Zambrisnkie Scoville atravessou o oceano e enamorou-se de um dos mais belos palácios portugueses, salvando-o de décadas de abandono e degradação que deixaram marcas difíceis de apagar. Para além das históricas paredes e dos azulejos únicos, ajudou a resgatar crianças francesas encurraladas pela guerra, que alojou temporariamente na sua “Bacalhôa”, hoje propriedade de Joe Berardo e casa do seu filho.

 

bacalhoa antes do restauro.JPG

Foi a 24 de março de 1935 que visitou esta quinta de Azeitão (Setúbal) pela primeira vez, acompanhando umas amigas empenhadas em escrever um livro sobre Portugal. A ela caberia o estudo dos azulejos.

A americana, então com 48 anos, deve ter gostado muito do que viu nesse dia, porque escreveria no seu diário que tinha ficado com o “estranho sentimento” que um dia iria ser proprietária do espaço e restaurá-lo ao seu antigo esplendor.

 

bacalhoa antes do restauro 2.JPG

O problema é que o palácio estava em ruínas e não se encontrava à venda. O conhecido arquiteto Norte Júnior*, ficaria encarregue de entrar em contacto com o proprietário, Raúl Martins Leitão, que detinha a quinta desde 1914, obtendo dos seus cem hectares dois mil litros de azeite e cinco mil de vinho por ano, para além de trigo, laranjas e tangerinas.

bacalhoa antes do restauro3.JPG

Não foi fácil chegar a acordo e, nesse impasse, Norte Júnior ainda tentou seduzir Orlena a optar pela aquisição de um “fine castle” do mais pitoresco que há na zona de Sintra, abandonando a ideia extremamente difícil e dispendiosa de recuperar a “Bacalhôa”.

Mas, nada demoveu Orlena.

Não só conseguiu comprar a quinta, como dedicou os anos seguintes à sua recuperação.

 

bacalhoa depois do restauro2.JPG

 

Era um projeto de vida, que iniciou imediatamente, ainda antes da aprovação do projeto de Norte Júnior, por parte da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em meados de 1936

Contaria também com o apoio técnico do especialista em cerâmica Santos Simões**, já que parte do gigantesco desafio era um verdadeiro quebra-cabeças de azulejos de todas as cores, motivos e épocas, a começar no século XV e a que a proprietária dedicou muito tempo e paciência.

Como base do restauro, foram tidas em conta as inspiradoras aguarelas pintadas por A. Branc*** no século XIX para o primeiro estudo completo sobre a quinta, da autoria de Joaquim Rasteiro.

bacalhoa depois do restauro.JPG

Todo o edifício estava em muito mau estado e a sua reconstrução, para além de complexa, avultada e onerosa, foi pautada por surpresas, algumas boas, como a descoberta, entre escombros e entulho, de peças de azulejaria e estatuária únicas e irrepetíveis.

 

 

orlena scoville ao centro pouco antes de embarcar

Orlena tornou aquela a casa de férias da sua família, decorando-a com mobiliário de época português e tornando-a confortável para a permanência por temporadas, beneficiando da paz que então se vivia em Portugal, quando a Europa vivia um dos seus períodos mais negros, mergulhada na II Grande Guerra.

Foi nessa altura que a americana foi contactada por Martha e Waitstill Sharp, do United States Commitee for the Care of European Children, e aceitou receber na Quinta da Bacalhôa grupos de crianças francesas com idades entre os 5 e os 15 anos, cujas famílias, temendo pela sua segurança, enviaram para lares de acolhimento durante a guerra.

martha sharp (quinta da direita) e crianças salva

Era ali que aguardavam haver navio disponível para rumarem o Estados Unidos da América.

Apoiando o trabalho do casal - reconhecido posteriormente como “Justos entre as Nações” pelo seu papel no salvamento de judeus neste período – a americana cedeu a sua casa também para outros viajantes fugitivos e colocou ao serviço da causa os seus conhecimentos pessoais, nomeadamente intermediando junto da Nestlé e das companhias de caminho de ferro de Portugal e Espanha, para fazer chegar leite em pó a famílias necessitadas em França.

martha e waitstill sharp e crianças salvas em por

 

Mais ou menos na mesma altura, mas no seu país, transformaria a casa de família, no Connecticut, num lar para a recuperação de oficiais ingleses cujos navios haviam sido torpedeados durante o conflito, estando também empenhada, cá e lá, noutros organismos de apoio à infância

A família Scoville ficaria ligada a Azeitão durante 60 anos, embora Orlena tenha morrido no seu palácio de encantar, no dia 7 de agosto de 1967. Os desmesurados custos inerentes à manutenção de uma velha e exigente “senhora”, como a Quinta da Bacalhôa, ditaram a sua venda. Hoje pertence à Fundação Berardo e acolhe um museu onde se resume a sua história e são exibidas peças de arte de várias proveniências.

quinta da bacalhoa 1.JPG

 

À margem

quinta da bacalhoa anos 50.JPG

A Quinta da Bacalhôa teve, desde 1427, pelo menos 40 proprietários, descendentes de 15 ramos familiares diferentes. Três mulheres deixaram o seu nome associado de forma marcante ao espaço. A primeira foi D. Brites, neta de D. João I e mãe do que viria a ser D. Manuel I, mulher extraordinária que, entre tantos outros feitos, deu início à construção do palácio, já com especial profusão de azulejos. Dando um salto sobre outro proprietário importante, Afonso Brás de Albuquerque, temos Maria de Mendonça e Albuquerque, que herdou a quinta por morte do marido, conhecido como “o bacalhau” e a quem o povo tratava por “bacalhôa”, batizando assim a sua propriedade. Já no século XX, como vimos, Orlena Scoville dá ao espaço uma nova vida, reabilitando-o. Como reconhecimento deste trabalho, a americana foi, em 1947, homenageada pelo Estado Português, que a fez Dama da Ordem Militar de Santiago de Espada. Curiosamente, o palácio e a quinta pertencem atualmente a outro condecorado: José (Joe) Berardo, agraciado uma vez em França (Ordem da Legião de Honra) e duas vezes em Portugal (Comendador e Gran Cruz da Ordem do Infante D. Henrique).

Já agora, o filho de Orlena, Herbert Scoville Jr, também foi diversas vezes homenageado, havendo até uma bolsa de estudo com o seu nome, destinada a formar jovens para serem os políticos do futuro. Depois de exercer altos cargos governamentais, nomeadamente na CIA, como especialista em armamento, Herbert dedicou o resto da sua vida ao ativismo pelo controlo das armas nucleares.

Mas isso é outra história…

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*Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962) foi um dos mais conhecidos e ativos arquitetos portugueses do início do século XX, autor de edifício emblemáticos e várias vezes vencedor do Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura.

**João Miguel dos Santos Simões (1907-1972) sumidade no estudo do azulejo português, esteve na origem do Museu Nacional do Azulejo.

***Incluídos na monografia de Joaquim Rasteiro sobre o palácio e quinta da Bacalhoa e a sua relevância para a renascença em Portugal.

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Nota: as imagens com Martha Sharp e crianças salvas são em Portugal, mas não estão identificadas como tendo sido captadas na Quinta da Bacalhôa.

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Fontes

Informação obtida a partir da exposição patente no Palácio da Bacalhôa. Marcação de visitas disponível aqui: Palácio da Bacalhôa (bacalhoa.pt)

Resumo histórico fornecido pela Bacalhôa Vinhos de Portugal, que muito agradeço.

Palácio e Quinta da Bacalhôa – Inícios da Renascença – Monographia Histórico-Artística, de Joaquim Rasteiro; ilustrações de A. Branc; Imprensa Nacional; Lisboa – 1895.

 

Direção-Geral do Património Cultural

www.monumentos.gov.pt

The New York Times

www.nytimes.com

9 ago 1967

American Friends Service Comittee

1943 Benefit Concert for Starving Children at NY MET_0.pdf (afsc.org)

 

A Connecticut Estate With a Sunken Garden and Secret Hideaway - WSJ

Orlena Zabriskie - Registos históricos e árvores de família - MyHeritage

Orlena Scoville - Ancestry.com

 

American School For the Deaf

History American School for the Deaf (asd-1817.org)

 

RTP – Arquivos

O Jardim Desapareceu – Pt. I – RTP Arquivos

Brown University Library Catalog

Martha and Waitstill Sharp Collection

https://library.brown.edu/

 

Martha and Waitstill Sharp Collection, ca. 1905-2005

United States Holocaust Memorial Museum

http://collections.ushmm.org

 

 

Martha and Waitstill Sharp with Their Children | Facing History and Ourselves

 

Arquivo Nacional Torre do Tombo

Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq (arquivos.pt)

Assembleia Distrital de Lisboa

Estatística – 1946 – volume II (Serviços de Assistência – Centros de Assistência Social)

PT/TT/ASDL-02JPE/I/288/00005

Empresa Pública Jornal “O Século” – Serviço de Fotografia

PT/TT/EPJS/SF/001-001/0077/3152O

 

Brasões da Sala de Sintra, de Alselmo Braamcamp Freire; 2ª edição, Livro segundo; Imprensa da Universidade de Coimbra; 1927. Disponível em:

Brasões da Sala de Sintra : Braamcamp Freire, Anselmo, 1849-1921 : Free Download, Borrow, and Streaming : Internet Archive

The Herbert Scoville Jr. Peace Fellowship

http://scoville.org

 

Ordens Honoríficas Portuguesas

www.presidencia.pt

 

Museu do Azulejo

www.museudoazulejo.gov.pt

 

Câmara Municipal de Lisboa – Urbanismo – Prémio Valmor

https://web.archive.org/web/20100729115333/http://ulisses.cm-lisboa.pt/data/002/008/index.php?ml=2&x=01.xml#

 

Arquivo Municipal de Lisboa

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/

António Passaporte

PT/AMLSB/PAS/000339

PT/AMLSB/PAS/000341

Artur Pastor

PT/AMLSB/ART/001559

Wikipedia

Manuel Joaquim Norte Júnior – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Joe Berardo – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Righteous Among the Nations - Wikipedia