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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

Instantâneos (86): uma fé desaparecida para sempre

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Esta é a história de uma fé que se perdeu. Não é uma religião, nem um sentimento. Esta fé foi destruída pelo povo em fúria, cansado de séculos de perseguições. Era a imponente figura que encimava a fachada do gigantesco edifício da Inquisição, essa também desaparecida – tarde, mas felizmente - da vida dos portugueses.

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Estávamos em 1821. Viviam-se os novos – e ainda breves – ímpetos da Revolução Liberal. A tenebrosa Inquisição era formalmente extinta, quase 300 anos depois da sua criação. O projeto de lei, apresentado pelo deputado Francisco Simões Margiochi, foi aprovado por unanimidade.

Terá sido no seguimento desta histórica decisão política que as gentes de Lisboa se sublevaram contra aquele símbolo de um passado que não queriam repetido.

Um grupo determinado ter-se-á dirigido ao Rossio e, não se sabe bem como, arrancou a Fé do seu pedestal, despedaçando-a com a raiva própria de um recalcamento secular.

A estátua caiu “ao som de gritos estrepitosos e atribuladas vozerias”, pondo fim a um percurso negro que custara incontáveis vidas. Na praça pública queimaram-se também os medonhos instrumentos de tortura.

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Esta é pelo menos a explicação aceite para o misterioso desaparecimento daquela figura saída da oficina do célebre escultor Machado de Castro e da qual restam apenas as imagens que apresento.

O trabalho duro terá sido executado, em mármore, pelas hábeis mãos de João José Elveni, Alexandre Gomes, Francisco Leal Garcia e José Joaquim Leitão, colaboradores do mestre em numerosos trabalhos, como a representação de D. José I, patente no Terreiro do Paço.

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A Fé era a “cereja no topo do bolo” do monumental edifício desenhado por Carlos Mardel para fechar, a Norte, o Rossio, construído após o grande terramoto de 1755 no local onde havia estado o Paço dos Estaus, “casa” da Inquisição de Lisboa.

Instalada em local cimeiro, sobre as Armas Reais Portuguesas, esculpidas na frontaria, era um conjunto dramático, com perto de três metros de altura.

Em pé, com as tábuas dos Dez Mandamentos numa mão e segurando na outra um cálice com um coração em chamas. Não se lhe vê a cara, tapada pelas dobras do manto que lhe cobre todo o corpo, mas sob os pés vislumbra-se outro estranho ser, disforme e sinistro: a heresia que, embora contorcendo-se, é calcado e dominado pela vitoriosa Fé. 

Machado de Castro ainda terá tido notícia da destruição desta sua obra, pois viveu até 1822. Já não assistiu ao colossal incêndio que, em 14 de julho de 1836, deitou por terra todo o quarteirão, arrasando assim outra instituição habitualmente odiada pela arraia miúda: o fisco. É que, por essa altura, funcionava ali o Tesouro Público Nacional, com a Secretaria da Fazenda, Junta dos Juros e repartição do Selo.

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O palácio que se ergueu onde antes esteve o Paço dos Estaus e que daria lugar ao Teatro D. Maria II, albergou muitos outros serviços públicos: Paço da Regência, Câmara dos Pares; vereação lisbonense; Escola do Exército; Intendência-Geral da Polícia e o Banco de Portugal…

 

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Fontes

Lisboa Antiga – Bairros Orientais, de Júlio de Castilho; 2º edição, Vol X; Lisboa – 1837. Disponível na Biblioteca Nacional de Portugal, em linha. www.purl.pt

Uma estátua desaparecida de Joaquim Machado de Castro, por Maria José de Mendonça; Boletim do Museu Nacional de Arte Antiga, Vol 1 fasc 03 - jan-dez 1946. Disponível em: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

D. Maria II - A rainha insubmissa, de Luísa V. de Paiva Boléo; A esfera dos livros - 2014

A Revolução Liberal (1820) (parlamento.pt)

 

A abolição da Inquisição (1821) (parlamento.pt)

 

Machado de Castro – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

 

Imagens

1

"A reunião da Junta Provisória do Governo Supremo do Reino e Regência Interina de Lisboa"
Estúdio Mário Novais

Gravura de Antoine Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado

PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/MNV/000746 - Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt

2

Fragmento de La superbe révûe des Protecteurs em Lisbonne dans la Place de la Parade, de Luís António Xavier, em:

Museu de Lisboa

3

La superbe révûe des Protecteurs em Lisbonne dans la Place de la Parade, de Luís António Xavier, em:

Museu de Lisboa

4

Gravura o palácio após ter ardido, em 1836

Imagem de gravura captada por José Artur Leitão Bárcia

PT/AMLSB/POR/053173

Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt

5

Rossio com Teatro Nacional D. Maria II
Eduardo Portugal
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/EDP/001638

Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt

 

 

O aeronauta português que é um herói em Cuba

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A sua história trágica deu origem a centenas de versões e especulações. Foi escrita, cantada, homenageada em banda desenhada e selos de correio.  Até hoje, voar como Matias Perez é sinónimo de desaparecer sem deixar rasto.

 

Matias Perez era conhecido em Havana como “o rei dos toldos”, mas ficou na história por ter subido aos céus de Cuba num balão de ar quente. O intrépido aeronauta do século XIX era afinal português e o seu desaparecimento trágico transformou-o num verdadeiro herói, dando até origem a uma expressão idiomática usada ainda hoje.

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“Voou como Matias Perez” significa que algo se perdeu para sempre, que não tem remédio, que desapareceu. A frase, repetida incontáveis vezes, de geração em geração, perdura no folclore cubano até à atualidade. Mas, afinal, quem foi Matias Perez (Peres na origem)?

Terá nascido no nosso País em lugar não apurado, cerca de 1825. Foi marinheiro e fabricante de velas para embarcações.

Tais atributos foram a sua porta de entrada para o comércio de Cuba, pois transferiu os conhecimentos de corte e costura de tecidos e telas para a confeção de coloridos todos, uma das imagens de marca da Havana de então, pois, as estruturas adornavam as fachadas as lojas, ao mesmo tempo que protegiam os transeuntes e as montras do impiedoso sol caribenho.

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Terá rumado às “américas” com pouco mais de vinte anos, em busca de melhor sorte, de uma vida mais risonha do que a possível em terras lusas por aqueles tempos. Fixou-se na rua Neptuno e devia ser bom no que fazia, pois rapidamente todos o conheciam como “o rei dos toldos”, angariando uma farta e endinheirada freguesia.

Mas, a sua paixão era voar…e dar nas vistas.

 

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Tomou conhecimento com o aeronauta francês Eugene Godard, que se havia deslocado em tournée para mostrar as suas ascensões em balão, algo muito em voga na época e por toda a Europa.

Participou em vários voos, apanhou alguns sustos, tornou-se colaborador do veterano balonista e acabaria por comprar um dos aparelhos (o Villa de Paris), conseguindo também muita informação e conhecimentos sobre como manobrar os aeróstatos.

Daí que, quando pediu autorização às autoridades para realizar umas elevações em balão de mote próprio, facilmente a obteve. Parte dos bilhetes angariados reverteriam para a caridade.

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A primeira tentativa, a 12 de junho de 1856, correu muito bem. O dia estava esplêndido e Matias Perez andou ao sabor do vento suave cerca de duas milhas, até tocar o solo, com excessiva rapidez, mas incólume.

 

 

Isto deu-lhe ânimo para repetir a proeza.

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Desdobrou-se em entrevistas, divulgação e, como a estreia tinha sido tamanho êxito, no dia 29 de julho toda a Havana se acotovelava no Campo de Marte e arredores. Uma multidão indistinta de populares e toda a fina sociedade, políticos e outros altos dignitários quiseram ver o português voador.

Na realidade, as condições atmosféricas não convidavam a altos voos. O bom senso aconselhava ao cancelamento e Matias Peres deve ter percebido isso, pois fez atrasar o momento da descolagem.

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Mas, o seu ego, o não querer perder aquele momento de triunfo, nem desapontar os milhares que ali haviam acorrido para o ver “brilhar”, fizeram-no arriscar, já o sol descia no horizonte.

 

Elevou-se e depressa se afastou rumo ao vazio, enquanto discursava dedicando a façanha às mulheres cubanas.

Ainda foi avistado de terra e do mar, mas esfumou-se sem deixar rasto pouco depois. Embora o governador da ilha tenha ordenado buscas e envidado todos os esforços para o localizar, nunca mais ninguém lhe pôs os olhos em cima, nem foram encontrados vestígios do balão.

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É claro que tão público e extraordinário desaparecimento transformou o nosso Matias Perez num verdadeiro herói, uma celebridade póstuma, frequentemente aludido como o precursor da aeronáutica em Cuba, o que nem é verdade.

 

 

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A sua viagem trágica foi, desde aí, fantasiada vezes sem conta. Deu origem a canções, histórias de banda desenhada e inúmeras versões.

O seu nome foi usado em postais, selos, carimbos comemorativos e como trunfo publicitário, batizando até uma marca de chocolates, tal a fama e notoriedade que ganhou ao longo dos últimos 165 anos.

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Como bem diz o conhecido ditado, tão português como Matias Perez, “Se queres ser bom, morre ou vai-te!”. 

Foi isso que este nosso conterrâneo fez… em grande estilo.

 

 

 

À Margem

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Em Portugal, se excluirmos outras experiências anteriores, como as do padre Bartolomeu de Gusmão, o primeiro voo de balão realizou-se em 1819, pela mão do francês Guillaume Eugène Robertson, (entre nós conhecido como Eugénio Robertson). Na época, os pioneiros das viagens em balão andavam de país em país arriscando a vida para gáudio de milhares que assistiam extasiados a tais feitos.

Foi assim também com aquela que terá sido a primeira mulher a elevar-se em balão a partir de solo nacional - Bertrande Senges, em 8 de junho de 1850 – e com o casal Poitevin que, no verão de 1857, fez furor efetuando várias elevações, no Porto, em Coimbra e em Lisboa.

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Na Capital, o local escolhido foi a praça de touros então existente no campo de Santana (atual Campo dos Mártires da Pátria), onde ficou especialmente registada a coragem de D. João de Menezes.

Foi no dia de aniversário de D. Pedro V e, quando todos recuaram apavorados, o fidalgo, conhecido pela sua bravura no toureio, ofereceu-se para participar na ascensão do balão.

Conta quem viu, que saltou para a barquinha, com a mesma placidez com que entrava nos cestos de balanço da Floresta Egípcia ou montava a cavalo nas múltiplas corridas em que se exibiu. O balão atravessou o Tejo e viria a pousar sem incidentes numa quinta perto de Sarilhos Pequenos (Moita).

Quanto a D. João de Menezes, este episódio só serviu para marcar mais pontos no livro da sua audácia, já tão conhecida na arena e nos diversos duelos em que participou, frequentemente em defesa de uma qualquer dama que lhe havia ganho o momentaneamente o coração ou apenas a preferência como bailarina no palco do S. Carlos…

 

Mas isso é outra história...

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Já aqui antes falei de outros aeronautas: O poeta que criava máquinas voadoras - O sal da história (sapo.pt)

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As imagens são meramente indicativas.

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Fontes

 

Lisboa d’outros tempos – I Figuras e scenas antigas , de Pinto de Carvalho (Tinop); editado pela Livraria de António Maria Pereira; Typographia e steeiotypia Moderna; Lisboa – 1898. Disponível em:

grupo.do (larramendi.es)

 

Texto de Viriato Teles em:

A história incrível de Matías Perez (viriatoteles.net)

 

Hemeroteca Digital - Diarios Históricos en Internet - Prov. Santa Fé - República Argentina (santafe.gov.ar)

Translated Poe, de Margarida Vale de Gato, editado pela própria e por Emron Esplin; Centro de Estudos Englísticos da Universidade de Lisboa; publicado por Lhigh University Press; Copuplicado pelo The Rowman and Littlefield Publishing Group, citando J. Diniz Ferreira, em A Aeronáutica Portuguesa, Lisboa - 1961

O primeiro está disponível aqui:

Translated Poe - Google Livros

 

 

RULN35.pdf (cm-lisboa.pt)

 

Flew away like Matias Perez. Curiosities - CMBQ Radio Enciclopedia

 

 

Exposición-500-años-de-conocimiento-Cuba-Portugal-Torre-do-Tombo_pdf.pdf (casamericalatina.pt)

 

Grande ascensão, e descida em Guarda-Queda por Eugenio Robertson, hoje domingo 12 de dezembro ... | Library of Congress (loc.gov)

 

robertson - desafios (google.com)

Matías Pérez (balonista) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Louise Poitevin – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Bertrande Senges – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

 

imagens

https://www.ecured.cu/index.php?curid=185724

... E ELE VOOU COMO Matias Pérez! ' . ... E ele voou como Matias Perez! | A História, a Cultura e o Legado do Povo de Cuba (thecubanhistory.com)

Unused stamps - 1983.30 CUBA 1983 Ed.2899 200 ANIV PRIMER VUELO EN GLOBO. SHEET GLOBE MATIAS PEREZ AIRPLANE AVION ZEPPELIN MNH (delcampe.net)

Matías Pérez no fue el primero, aunque sí el más famoso | Excelencias del Motor

matias perez cover.jpg (441×582) (usc.edu)

 

Instantâneos (85): os protagonistas esquecidos do quotidiano

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O enorme fardo de palha lentamente desmanchado domina toda a imagem e monopoliza a nossa atenção. Mas, esta bela aguarela de Roque Gameiro mostra muito mais daquela Lisboa perdida que o pintor quis recuperar e perpetuar nas suas obras*. Mostra aquilo que normalmente é ignorado.

No entanto, somos dominados pela azáfama que se persente árdua dos homens, paulatinamente desbastando o gigantesco aglomerado*, vergando-se depois sob o peso de cada carregamento que transportam, equilibrados a custo na prancha que os separa do carro de bois.

Se conseguirmos afastar o olhar deste movimento que Roque Gameiro nos quis projetar, vemos ao longe a Torre de Belém, testemunha silenciosa da partida e chegada de tantas embarcações e navegadores.

Vemos, na praia, um homem que empurra um pequeno barco, anunciado que vai lançar-se com ele às águas, quiçá para alcançar algum dos navios que vislumbramos à esquerda.

Quase somos também salpicados pela brincadeira dos rapazes que, a pouca distância, se banham no Tejo, indiferentes a quem trabalha ou descansando também de alguma tarefa anterior.

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O areal não convida ao veraneio. Está sujo e cheio de perigos - cacos, uma fateixa, paus espetados. No entanto, é ali que, em primeiro plano mas ofuscadas por toda a restante atividade, vemos duas mulheres negras. Uma repousa já, sentada num inesperado trono.  A outra lava uma espécie de vaso nas águas do rio.

São calhandreiras. Em tempos sem esgotos, calcorreavam a cidade recolhendo dejetos. Por uma pequena quantia, levavam para longe, para as águas do Tejo, os incómodos despojos das casas. Correspondiam ao degrau mais baixo da escala social. Faziam o trabalho a que mais ninguém se submetia e, no entanto, aqui estão como protagonistas belas desta obra de Roque Gameiro.

“Descarga no Tejo”, o título atribuído a este quadro tem, assim, um duplo significado. Os homens descarregam a palha que vai servir a população. As mulheres fazem o mesmo aos restos indesejados da vida alheia. Ali, nas traseiras da cidade que eram então a frente ribeirinha, ambos são personagens, tão úteis quanto desvalorizadas, do quotidiano lisboeta.

 

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Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) teve uma carreira longa e extremamente produtiva. Embora as suas aguarelas tenham retratado os mais diversos temas, nomeadamente com a ilustração de obras literárias, dedicou parte do seu trabalho à preservação em imagem da memória de trajes, tipos e profissões desaparecidos.

 

Esta obra em particular, pode ser apreciada no Museu da Aguarela Roque Gameiro, em Minde, terra natal do pintor.

 

 

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*A embarcação retratada por Roque Gameiro aparenta, pelo sistema de velas visível e pela forma do casco, ser uma muleta, barco de pesca típico do Barreiro e do Seixal, na margem sul do Tejo, e caída em desuso no século XIX. Curiosamente, mais usada para transporte de mercadorias, era a fragata.

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Fontes

MNAC: Alfredo Roque Gameiro (museuartecontemporanea.gov.pt)

Museu de Aguarela Roque Gameiro | www.visitportugal.com

Alfredo Roque Gameiro – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Alfredo Roque Gameiro | ROQUEGAMEIRO.ORG (tribop.pt)

Maria Lucília Abreu, in Roteiro do Museu de Aguarela Roque Gameiro (2009)

Almada virtual: Fragatas e varinos do Tejo (almada-virtual-museum.blogspot.com)

Muleta - CM Barreiro (cm-barreiro.pt)

Roque Gameiro - autorretrato - Instituto dos Museus e da Conservação : Info/Pic, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=18451578