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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

(21) Instantâneos: a lição bem estudada

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Olhando para esta imagem é dificil saber por onde começar, tantas são as mensagens “plantadas” estrategicamente para que não existam dúvidas ou segundas interpretações.

Podemos iniciar pela família apresentada. A mulher, castamente vestida, entregue aos seus afazeres domésticos, mas acolhendo o marido com um movimento do corpo e o olhar, reverente. O homem, chefe da casa, vindo do trabalho, árduo certamente, empunhando a enxada que, em conjunto com outras alfaias tradicionais arrumadas por detrás da porta, nos indica uma atividade física, ligada à terra, como deve ser.

As crianças, o casalinho desejado por toda a gente - ele com o uniforme da Mocidade Portuguesa, como não poderia deixar de ser – levantando-se educadamente para receber o pai. Ela, bracitos no ar de alegria ao ver o progenitor, por momentos desviada da brincadeira em que se entretinha: bonecas e tachinhos, claramente antecipando aquilo que será a sua ocupação adulta de mulher e mãe.

Depois temos o cenário. Uma casa modesta, mas limpa e organizada, onde não falta uma mesa posta. Aí repousa já um pão e um jarro de vinho, sobre uma toalha imaculadamemnte branca, à espera da refeição em família.

Uma réstia de cebolas, abóboras, um monte de lenha, uma espécie de alguidar com alimentos, os recipientes rudimentares mas suficientes e dignos, alguns fechados, guardando água, azeitonas… ajuizadamente precavendo outros dias, outras refeições.

No lugar de destaque e sobre a melhor peça de mobilia da casa, um Cristo na cruz, pequeno altar onde estas pessoas expressam a sua devoção, sempre presente.

E como se isto não bastasse, ainda temos a paisagem exterior, certamente campestre, mas onde não poderiam deixar de se vislumbrar os símbolos da portugalidade e da nossa heroica, gloriosa e vetusta história: um castelo onde se hasteou a Bandeira Nacional.

Se alguma coisa nos tivesse escapado, a mensagem verbal está lá; “A lição de Salazar” - “Deus, Pátria, Família: a trilogia da educação nacional”.

Não há como falhar. Ou antes, há muito por onde falhar porque até Salazar devia saber que, lamentavelmente, não existem mundos perfeitos…mesmo que todos os dias nos queiram convencer do contrário.

Este quadro, mil vezes esmiuçado, mas ao qual não resisti, é o último de um conjunto de sete, lançados e profusamente distribuídos em 1938 pelo Secretariado da Propaganda Nacional, para comemorar os dez anos de governo. É o único em que não se faz uma comparação entre o caos do País antes da subida de Salazar ao poder e o paraíso em que este se tornou após a sua ação. 

O grafismo é de Jaime Martins Barata.

 

Fontes

Biblioteca Nacional Digital

http://purl.pt/22317

 

http://oliveirasalazar.org/download/documentos/A%20lição%20de%20Salazar___4D121BE9-3394-4D43-AB1F-A81584CE2799.pdf

2 comentários

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    CV 06.10.2018

    Agradeço, o comentário. Deu-me muito gozo escrever, ainda bem que também é agradável de ler. Obrigada
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