Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

(27) Instantâneos: a mártir dos que negaram a religião

sarahmattos1.GIF

O que fez centenas de pessoas, muito povo, mas também os mais altos representantes políticos do País, rumarem ao cemitério dos Prazeres, em Lisboa, ano após ano, para prestar homenagem a uma pobre adolescente que nenhum destes conheceu pessoalmente? Assim foi durante décadas, com os jornais a darem ampla cobertura às manifestações de pesar que se repetiam a cada dia 23 de junho e, para além da tradicional deposição de flores, incluíam sempre comícios e outros encontros igualmente concorridos de cariz anticlerical e antirreligioso, como especificavam os jornalistas da época.

Mas quem foi Sara de Matos, falecida em 1891 e recordada durante tanto tempo por republicanos e maçons?

sarah mattos2.GIF

Sara Pereira Pinto de Matos nasceu em Lisboa e ficou órfã em tenra idade, tendo sido internada no antigo Convento das Trinas do Mocambo, na zona da Estrela*, onde morreu poucos dias depois, oficialmente de síncope, com apenas 14 anos de idade.

As investigações demonstraram que a jovem não só tinha sido envenenada, como havia sido alvo de uma violação. Um caso trágico e sórdido, que apaixonou a opinião pública e transformou a pobre Sara num símbolo da luta contra a religião e as congregações religiosas, então na ordem do dia.

sarah mattos3.GIF


A adolescente foi assim transformada em baluarte do anticlericalismo, usada como argumento político e, em simultâneo, chorada por uma vasta camada popular, que se identificava com o sofrimento dos mais pobres e desprotegidos, não encontrando nos poderosos uma resposta para as suas súplicas.

Significativamente, o convento onde morreu fechou as portas em 1910, ano da Implantação da República.
O túmulo, um exemplo da arquitetura de inspiração maçónica, foi erigido por subscrição pública no jornal O Século e inaugurado no 20º aniversário da morte de Sara de Matos.

Situa-se Cruzamento da rua 12 com a rua 6A do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

campa sara de matos 4.GIF

……….
*Hoje sede do Instituto Hidrográfico.
………

Fontes
A simbólica maçónica existente no Cemitério dos Prazeres enquanto indicadora de novas sensibilidades perante a morte, de Dânia Rodrigues, em Sapiens: História, património e Arqueologia, nº1, julho 2009, disponível em http://revistasapiens.org/biblioteca/numero1/A_simbolica_maçonica.pdf

Hemeroteca Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/
Illustração Portugueza
Nº180, 2 ago. 1909

Jornal A Capital
Nº 711, 3º ano - 21 julho 1912
Nº 713, 3º ano - 23 julho 1912

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.