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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

A “mãe dos pobres” criou o esquema da pirâmide

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Baldomera Larra oferecia “vantagens nunca vistas” aos seus clientes, um juro de 30 por cento ao mês e ainda prémios que faziam quadruplicar o investimento em apenas um ano. Em dezembro de 1876 desapareceu, deixando milhares de pessoas sem as suas poupanças. Esta é a história da mulher que inventou o conhecido esquema da pirâmide que, entre nós, um século depois, ficou especialmente célebre pela mão de Dona Branca, a “banqueira do povo”.

A monumental “Casa de Imposiciones”, o estabelecimento bancário de Dona Baldomera Larra recebia, em Madrid, centenas de pessoas todos os dias. Criados de servir, operários, gente do campo, simples, ingénua, acotovelava-se para conseguir depositar as suas pequenas economias nas mãos da “mãe dos pobres” ou dos seus muitos colaboradores. Depois voltavam para receber os dividendos, sempre pagos a tempo e horas e habitualmente reinvestidos no mesmo “banco”.

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Tinha um movimento superior às mais concorridas casas bancárias de Paris, mas guardava em “absoluto mistério” quais as rendosas operações em que investia o dinheiro alheio, para conseguir tal rendimento. Dizia apenas que era “mais simples que o ovo de Colombo”, mas a imprensa especulava se Baldomera seria “testa de ferro” de algum grupo de capitalistas, ou o centro oculto de um grande número de casas de penhores, que cobravam juros ainda superiores aos que a banqueira oferecia.

Até que o escândalo rebentou no final de 1876 e teve repercussões em toda aa Europa, com os jornais a fazerem enorme alarde ao caso.

No dia 3 de dezembro, Dona Baldomera assistiu a um espetáculo teatral, mas saiu ao final do segundo ato.

E evaporou-se…Ou pelo menos foi isso que pareceu, pois durante muito tempo não houve sinal da conhecida mulher, dos seus sete filhos, do recheio da sua faustosa casa ou de todo o dinheiro que tinha à sua guarda.

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Milhares de vítimas do esquema assentaram então arraiais durante dias na Plaza de la Paja, onde se situara a sede do “banco”, chorando o dinheiro entregue.

Na época estimou-se que ali tivessem sido depositados mais de 900 contos de reis.


Só alguns meses depois, com a detenção dos seus mais próximos colaboradores, se soube do paradeiro da “patroa”, que vivia em França, com uma identidade falsa.


Foi a julgamento e acabou condenada a seis anos de cadeia, mas viria a ser absolvida num tribunal superior, já em 1881. Entretanto tinha-se gerado um movimento popular a seu favor e os advogados conseguiram fazer vingar a tese que o esquema se devia a pura necessidade da própria que, por ser mulher casada, não tinha sequer autonomia para firmar contratos válidos.

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Logo, a “mãe dos pobres” estava inocente e podia continuar com a sua vida, desta vez longe das luzes da ribalta, pois não voltou a ouvir-se falar de mais esquemas fabulosos da sua parte.


A sua criação, por outro lado, continua a dar que falar. Periodicamente, em algum país do mundo, alguém é preso por usar o esquema da pirâmide que tem tendência para fugir ao controlo dos seus promotores e deixar sempre um rasto de depositantes lesados.

 

À margem
Ao contrário da nossa Dona Branca, de raízes muito humildes, Baldomera Larra tinha uma ascendência célebre e um leque de familiares famosos, tal como ela, nem sempre pelas melhores razões. Era filha do conhecido jornalista e escritor romântico Mariano José de Larra, que se suicidou com apenas 27 anos, deixando três filhos.

Baldomera, a mais nova, casou com o médico da Casa Real Espanhola, Carlos de Montemayor, cuja partida para as “Américas” por questões políticas deixou a mulher com sete filhos para criar e nas mãos de agiotas. Terá sido nessa altura que surgiu a brilhante ideia, que poria em prática, de se tornar banqueira, ganhando uma vida de emoção e suspense que já se conhece.

O irmão, Luís Mariano, seguiria as pisadas do pai e seria escritor, embora de dedicasse à comédiaAdelaLarra.jpg.

 

Adela, a outra irmã (na imagem), ficou conhecida pelo romance, não que tenha escrito algum, mas antes, pelo que viveu com Amadeo I de Espanha, irmão da nossa rainha Maria Pia e protagonista de um conturbado reinado de apenas três anos.

A relação acabou quando o monarca encontrou outra preferida, embora Adela ainda tentasse fazer escândalo público, relevando as picantes cartas que o rei lhe tinha enviado, sobre o que foi vivamente desaconselhada, à força de muito dinheiro e ameaças à sua integridade física.

As notícias posteriores dão conta do seu envolvimento numa badalada burla ao Duque de Santona.

Mas isso é outra história…

 

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Fontes
Biblioteca Nacional em linha
www.purl.pt

Diário Illustrado
5º ano, nº1412 – 10 dez. 1876
5º ano, nº1418 – 17 dez. 1876

 

https://www.tuotrodiario.com/divulgacion/20200717203222/baldomera-larra-estafadora-plaza-de-la-paja

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dona_Branca

https://es.wikipedia.org/wiki/Adela_Larra


https://pt.wikipedia.org/wiki/Amadeu_I_de_Espanha

https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Baldomera_Larra

https://www.muyhistoria.es/curiosidades/preguntas-respuestas/como-fue-el-fraude-piramidal-mas-popular-del-siglo-xix-481481286926

https://www.abc.es/espana/madrid/abci-dona-baldomera-hija-timadora-larra-invento-estafas-piramidales-y-huyo-suiza-201604092037_noticia.html

 

 

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