Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

Heróis do acaso (2): a prostituta que ajudou a República

mulher com cantaro.GIF

 

Justina Maria da Silva, meretriz.  Era julho de 1912. Em Chaves, travava-se uma luta fratricida entre monárquicos e republicanos. As balas zuniam nos ares; homens tombavam feridos; outros tentavam manter-se nos seus postos, com muita fome e uma secura que penetrava nas suas gargantas e os fazia sufocar. No meio de todo aquele caos, uma mulher – uma desgraçada, como lhe chamou um jornal – transformou-se em heroína.
Justina Maria da Silva, conhecida na terra como "Maria dos Garotos" - calcula-se porquê quando se sabe que era prostituta - foi o alento dos soldados republicanos.
Com um cântaro que enchia numa fonte próxima, matou-lhes a sede, levou-lhes comida e ainda lhes levantou a moral, mas não com as artes da sua profissão, embora para essa também seja necessária uma boa dose de psicologia…
Arriscando a vida na frente de batalha, a mulher incitava-os, se estes esmoreciam; alegrava-os, dançando, se a tristeza lhes despontava no peito; instigava-lhes coragem, se o medo os vinha espreitar; estimulava-os a continuar, a não desistir, enfim, a lutar.
De tal forma a sua participação foi decisiva, que aquela a quem também chamavam "Maria dos Rapazes" ou "Maria do Rasgão", foi condecorada com a Medalha de Mérito, Filantropia e Generosidade do Estado Português, acrescida de recompensa pecuniária de 50 escudos. A homenagem foi extensiva a outra flaviense, Gloria dos Anjos Alves Carneiro, que talvez por ter uma profissão menos peculiar não mereceu relato na imprensa.
Quanto a Justina, recompôs a vida e a reputação.

Tornou-se patroa de uma taberna com muita freguesia, onde aquelas que se dedicavam à atividade que outrora fora a sua eram sempre eram bem recebidas. Elas e os mancebos que ali iam afogar as mágoas e acabavam brindando à bravura de Maria. Mostrava-lhes orgulhosamente a condecoração, guardada com carinho numa velha caixa já muito gasta pelo uso, lembrando o tempo em que ela, imitando a samaritana da Biblia, matou a sede aos que poderiam ser seus inimigos.

E depois...nunca mais se ouviu falar desta heroína do acaso.

..............

Nota: a imagem é meramente simbólica.

.............

Fontes
Hemeroteca digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt
Jornal A Capital
Nº745, 3º ano – 24 ago. 1912

Coleção oficial da legislação portuguesa – 1912, Imprensa Nacional, Lisboa, 1915. Disponível em
https://books.google.pt/books?id=2JgvAQAAMAAJ&pg=PA850&lpg=PA850&dq=%22justina+maria+da+silva%22+chaves&source=bl&ots=f5cTeEhQS7&sig=ACfU3U3L0eRXAe3kQ1r_1N6guZhx4uQn7g&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwiPy-uPhKrjAhXb6OAKHThcCY4Q6AEwCXoECAkQAQ#v=onepage&q=%22justina%20maria%20da%20silva%22%20chaves&f=false

https://chaves.blogs.sapo.pt/chaves-daurora-1467344

https://www.ernanileiloeiro.com.br/destaques.asp?Num=175&pag=2&tipo=5

 

2 comentários

Comentar post