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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

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Heróis do acaso (9): o patrão dos salvadores

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Joaquim Lopes, salva-vidas. Há heróis por acaso e depois há os que, após um primeiro ato fortuito, dedicam o resto das suas existências ao heroísmo. Foi essa a sorte deste olhanense destemido, símbolo do resgate de pessoas em apuros no mar.

Aos 25 anos, já a viver em Paço de Arcos, faz o seu salvamento inaugural, trazendo para terra um homem que, com o filho às costas, tentava atravessar a pé a caudalosa ribeira de Oeiras, debatendo-se com enormes dificuldades. Teriam ambos perecido ali mesmo, se o então remador da falua de abastecimento do forte do Bugio não tivesse entrado nas águas todo vestido, puxando-os para a margem.

Estávamos em 1823 e Joaquim Lopes já levava 15 anos de faina marítima, iniciada como pescador, o ganha-pão mais óbvio em Olhão, vila tornada da Restauração por graça real, em 1808 – ano de grata memória para aquelas gentes e em que, ainda rapaz, se havia iniciado nessas lides.

Valente, apesar de ser o mais novo entre os remadores, cedo se torna patrão da referida falua. Nesta e na sua lancha de pesca, terá salvo centenas de almas – diz que, a dada altura, deixou de as contar – de várias nacionalidades e condições.

Como os cinco marinheiros e o capitão resgatados da escuna inglesa Primorose, depois de seis horas de luta contra as ondas e que valeram a Joaquim Lopes e ao filho Quirino uma medalha de prata da Rainha Vitória e outra condecoração do governo português.

Não seriam os únicos ingleses postos a salvo pelo Patrão Lopes, nem esta seria a derradeira insígnia estrangeira que receberia.

O salvamento de parte da tripulação do Sthefanie valeu-lhe a medalha “Dedicação e Mérito”, do Estado Francês. D. Luís, rei de Portugal, impõe-lhe o colar de Oficial de Torre e Espada e o nosso governo concede-lhe, já avançado na idade, uma pensão de 240 mil reis e a graduação como 2ª Tenente da Armada.

O filho segue-lhe as pisadas e assume a falua salva-vidas. Leva-o ao colo para bordo, no seu último salvamento – já depois dos 80 - ao lugre britânico Lancy.

Morre em 1890, dois antes da criação do Instituto de Socorros a Náufragos, mas, mesmo depois de desaparecer, continua a salvar vidas. É que, entre as diversas homenagens de que foi alvo, está a escolha do seu nome para batizar um pequeno vapor apreendido à Marinha alemã e que desempenhou inúmeras missões de salvamento ao longo dos 20 anos que esteve ao serviço da Bandeira Nacional.

Essa valorosa embarcação “morreu” em 1936, à entrada da barra do Tejo, onde, tanto tempo antes, o antigo pescador de Olhão se havia convertido em herói.

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Já aqui antes falei de possantes remadores algarvios, que transportavam príncipes e princesas...

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Fontes

Instituto de Socorros a Náufragos

Joaquim Lopes (amn.pt)

 

Diogo do Rosário Sá Durão, N.S. Patrão Lopes, a história de um “pequeno” navio, Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Ciências Militares Navais, na especialidade de Marinha, Lisboa, 2018. Disponível aqui:

Repositório Comum: N.S. Patrão Lopes, a história de um “pequeno” navio (rcaap.pt)

https://www.olhaocubista.pt/Personalidades/patr%C3%A3o_joaquim_lopes.htm


Joaquim Lopes (patrão de salva-vidas) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

 

Imagens

Hemeroteca Digital de Lisboa

O Occidente, 30.08.1900

 

 

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