Instantâneos (106): o exército azul de Fátima
Há exatamente 55 anos, o Santuário de Fátima dava passos para a internacionalização. Nesse verão de 1968, entre peregrinos anónimos, grandes grupos de pescadores e de militares feridos – estávamos em plena Guerra do Ultramar – realizava-se ali o 1º Congresso do Doente e o Seminário Internacional do Exército Azul, instituição criada nos Estados Unidos da América para propagar por todo o mundo a mensagem que terá sido transmitida aos pastorinhos nas aparições de 1917.
Eram pouco mais de 700 os representantes vindos do estrangeiro para as duas iniciativas, mas já então se anunciava “o mundo em Fátima”. Bandeiras de vários países traduziam essa diversidade ansiada e os estandartes do denominado Blue Army faziam lembrar os das tropas, num qualquer campo de batalha.
O Exército Azul, fundado em 1947 pelo padre Harold Colgan, ganhava corpo e escala, para tal contribuindo a atividade do seu diretor norte-americano, o escritor e editor John Haffert, que organizou o seminário, brindando os presentes com intervenções inflamadas.
Seguindo a tradição das antigas cruzadas – pouco subtis dos seus métodos de expandir a fé cristã mesmo a quem não a desejava – esta “tropa” doutrinadora era menos guerreira, mas preconizava a evangelização universal, através da divulgação do culto mariano de Fátima.
Este peculiar exército intitulava-se “azul”, em oposição ao “vermelho”, moscovita.
Tendo-se desenvolvido em plena Guerra Fria, tinha a União Soviética como alvo preferencial, enfatizando o perigo que o comunismo representaria para os países ocidentais. Era um discurso muito apreciado - tanto nos Estados Unidos da América, como no Portugal do Estado Novo - e que espelhava o ateísmo soviético, que perseguiu os católicos dentro das suas fronteiras.
Já em 2005, ano em que ganhou reconhecimento papal e distante de se imaginar que o Leste viria novamente a representar uma tão grande ameaça, o Exército Azul suavizou a sua designação, passando a Apostolado Mundial de Fátima.
Tem mais de 20 milhões de seguidores em 120 nações, mas mantém a sua sede no nosso País, naigreja bizantina inserida no complexo Domus Pacis (na imagem), que atualmente funciona como hotel.
Por cá, John Haffert (na imagem), que legou a sua fortuna à causa, chegou, igualmente, a fazer esforços para o restauro do castelo de Ourém, então em ruínas, e instituiu a denominada Fundação Histórico-Cultural Oureana que, imagine-se, detém a que se intitula maior coleção de relíquias de santos existente fora do Vaticano.
Fontes
Fátima 50, nº16, 13.08.1968
Fátima 50, nº28, 13.08.1969
Fátima 50, nº31, 13.11.1969
Mensagem de Fátima protegida por um exército internacional (dn.pt)
ESPECIAL FÁTIMA | John Haffert, o americano que levou Fátima ao mundo | Médio Tejo (mediotejo.net)