Instantâneos (114): os legionários e a mocidade a brincar aos soldadinhos
Homens jovens fardados, alinhados, certinhos, marchando pelas ruas…poderiam estar em qualquer localidade deste País, mas, por mero acaso, estes estão em Alcácer do Sal, vila alentejana de branco casario, nos anos 40 do século XX.
São elementos da Legião Portuguesa, desfilando durante a visita do Chefe de Estado, Óscar Carmona, em 1949.
A Legião e a Mocidade portuguesas foram das mais emblemáticas instituições criadas durante o Estado Novo, como forma de mobilizar e condicionar os cidadãos, inculcando os princípios do regime.
Funcionavam muito à semelhança de organizações do mesmo género que surgiram em outros países com sistemas totalitários, como a Alemanha Nazi.
Em Alcácer do Sal, como, aliás, acontecia de Norte e Sul, funcionaram estruturas de ambas e as imagens mostram-nos um pouco da sua atividade, bem como os uniformes usados pelos seus membros.
A Legião Portuguesa foi fundada em 1936, com o objetivo de "a organizar a resistência moral da Nação e cooperar na sua defesa contra os inimigos da Pátria e da ordem social".
Esta milícia tinha um carácter voluntário e inspiração militar, assumindo-se como a pátria em armas, na defesa dos ideais preconizados pelo Estado Novo. Contribuiu para a subordinação das forças armadas ao regime e colaborou ativamente na rede de informações da polícia política, nomeadamente, no controlo dos movimentos de esquerda.
Durante muito tempo, a porta de acesso à atual sala de exposições da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal - edifício à esquerda, nas duas imagens - servia de entrada para a sede local da Legião Portuguesa. Ali aconteciam reuniões, treinos e paradas, como aquela que se vê na fotografia. Um dos pontos altos ocorreu em abril de 1940, com a visita do Comandante-Geral, Casimiro Teles, que passou revista às “tropas” e condecorou alguns membros locais.
Já a Mocidade Portuguesa, criada no mesmo ano da Legião, pretendia enquadrar as crianças e jovens dos sete aos 14 anos de idade, para que, como entoavam em uníssono, “cantando e rindo”, prosseguissem o sonho lindo de erguer a Nação, louvando os seus heróis
Nas terceira, quarta e quinta imagens vemos exercícios da Mocidade Portuguesa, que envolveram acampamento na cerca do castelo de Alcácer do Sal e passeio em galeão, no Sado.
A Mocidade Portuguesa era de participação obrigatória e tinha em vista “estimular o desenvolvimento integral” da capacidade física da juventude, “a formação do carácter e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, no gosto da disciplina e no culto do dever militar”.
No processo, como parece claro, incutiam-se os princípios e os valores do regime liderado por António de Oliveira Salazar.
No ano seguinte, instituiu-se igualmente a Mocidade Portuguesa Feminina, onde se reforçava o papel social então destinado às mulheres, como esposas e mães.
Tanto a Legião, como a Mocidade Portuguesa foram extintas com o 25 de abril de 1974, há meio século.
..................
Adaptado de texto da mesma autoria – Cristiana Vargas - publicado originalmente no jornal Voz do Sado em janeiro de 2024, no âmbito dos 50 anos do 25 de abril.
...................
Fontes
Arquivo Municipal de Alcácer do Sal
Fundo Baltasar Flávio da Silva
AATT - Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa
Mocidade Portuguesa – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Lá Vamos, Cantando e Rindo de 18 mai 2018 - RTP Play - RTP
Legião Portuguesa (Estado Novo) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Legião Portuguesa (1936) - Infopédia (infopedia.pt)
Imagens
Arquivo Municipal de Alcácer do Sal
Fundo Baltasar Flávio da Silva
PT/ AHMALCS/CMALCS/BFS/01/02/01/024/001
PT/ AHMALCS/CMALCS/BFS/01/01/08/001
PT/ AHMALCS/CMALCS/BFS/01/01/08/006
PT/ AHMALCS/CMALCS/BFS/01/01/08/007
PT/ AHMALCS/CMALCS/BFS/01/01/08/008