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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

Instantâneos (24): a brutal tourada no mar

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De regresso, é uma calmaria. Corpos luzidios e inertes enchem o convés, o sol refletido nas peles azul-metálico. Os homens manejam a embarcação e descansam, curando mazelas da última contenda - um arranhão, um golpe mais profundo que requer cuidados – pouco mais quebra a estranha tranquilidade que sucede às grandes tormentas. Apenas as manchas de sangue ainda fresco, aqui e ali, dão conta que algo de muito terrível teve lugar.

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O copejo do atum é um espetáculo frenético e medonho. Os grandes peixes são encurralados numa espécie de arena confinada por redes e barcos. Os pescadores penduram-se entre a amurada e o abismo. Com um braço seguram o cabo que os prende à vida e, com o outro, empunham os bicheiros, espécie de pequena foice com que fisgam os peixes e os içam para bordo.

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Os animais contorcem-se, tentam desesperadamente encontrar uma saída. Os homens esforçam-se por acabar rapidamente com aquela luta.
Têm as roupas e a pele machadas de sangue, gordura e sal.
Transfiguram-se em seres implacáveis até ao último peixe capturado e alçado para a embarcação já apinhada, mas a sua fragilidade é denunciada pelos esgares de esforço e dor e porque só a pares conseguem finalmente trazer para dentro cada enorme atum que insiste em bater com os vigorosos rabos pontiagudos, num ruído ritmado, irritante, mas inútil.

Um último sinal de alento quando já nada há a fazer. É preciso regressar.
…………
As imagens são do copejo do atum em Tavira, no Algarve. A atividade é mais antiga, mas a partir da década de 30 do século XIX, multiplicaram-se naquela região empresas que se dedicavam à captura do atum, que atravessa a nossa costa nas suas migrações sazonais. Os peixes eram encurralados numa armação de redes – as almadravas – e copejados para bordo. A cena, descrita como “tourada marinha”, impressionou Raúl Brandão. Pode ler a sua descrição aqui (pag.23), mas o resto da revista também vale a pena.

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Fontes
Lese, Mary Costa - O atum em Portugal entre 1896 e 2011: Contributos para a sua história ambiental, ecológica e económica – dissertação de mestrado em ecologia e gestão ambiental, 2013, Faculdade de Ciências, Departamento de Biologia Animal, Universidade de Lisboa, disponível em:
repositorio.ul.pt/bitstream/10451/9817/1/ulfc103169_tm_lese_costa.pdf

http://desvendando-historia.blogspot.com/2008/05/almadrava-epopeia-da-pesca-do-atum.html

Hemeroteca Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt

Panorama – Revista Portuguesa de Arte e Turismo
Nº23, ano 4º - 1945

http://dicionario.priberam.org/copejar

Imagens
Arquivo Municipal de Lisboa
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/
Artur Pastor
PT/AMLSB/ART/050229
PT/AMLSB/ART/005621
PT/AMLSB/ART/050209