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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

Instantâneos (37): de que ri Salazar?

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Salazar não era das pessoas mais sorridentes que a história de Portugal conheceu. Contudo, nesta imagem surge de sorriso aberto, quase jovial, ao lado das restantes individualidades que, no dia 29 de maio de 1949, enfrentaram o calor alentejano para inaugurar uma das maiores obras do Estado Novo: a Barragem Pego do Altar, então batizada com o nome do Presidente do Conselho. Mais curioso ainda é que o habitualmente impassível governante se manifeste desta forma efusiva num momento solene, enquanto outro dignitário usa da palavra. Lendo o discurso de João Branco Núncio - de costas, usando da palavra - que a imprensa da época resumiu, nada nele parece suscetível de merecer uma tal expressão facial de Salazar.
O conhecido cavaleiro tauromáquico falava enquanto lavrador, que sempre foi, e em nome dos cidadãos daquela classe no concelho de Alcácer do Sal. Relatava as dificuldades enfrentadas pelos agricultores, dependentes da chuva que o céu lhes dava e de como, mais do que água, a barragem representava pão para as gentes que viviam da terra.

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Aquele foi, efetivamente um dia risonho para Salazar, recebido e aclamado por milhares de pessoas que, de toda a região, ali acorreram, homenageado no local, por textos, ações e edificações – um padrão com as suas palavras e um medalhão com o seu perfil, obra do escultor Leopoldo de Almeida.

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Há 70 anos, coube ao presidente da República, Óscar Carmona, não cortar a fita, como era habitual, mas, ao som de centenas de foguetes, carregar no botão que ativou os jorros de água, ato entendido como o início do funcionamento da barragem.

 


O precioso líquido iria facilitar, como nunca, o desenvovimento agrícola da região, irrigando todo o vale do Sado, através de uma extensa e complexa rede de canais sem a qual a brutal produção de arroz dos dias de hoje não seria possível.
A obra continua lá*. O nome de Salazar há muito foi retirado, algo que, certamente, não o faria sorrir.

 

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*A rede de rega do vale do Sado tem mais de 186 quilómetros de canais e faz a água chegar a 9.614 hectares de terra com potencial agrícola.
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Fontes
Noticias e Fotografias de Alcácer do Sal Séculos XIX e XX, disponível em
www.cm-alcacerdosal.pt/.../Noticias_e_Fotografias_de_Alcácer__Séc_XIX_e_XX.pdf, citando jornal Diário de Lisboa, nº9517, ano 19 – 29 maio 1949, 1ª e 2ª edições, disponível em http://casacomum.org
Imagens
Salazar rindo – muito agradeço a Maria Antónia Lazaro que me encontrou este instantâneo invulgar. Retirada do livro João Núncio, de Maria João da Câmara, Edições Inapa, abril de 2002, isbn: 9789727970278.

Restantes: Arquivo Histórico Municipal de Alcácer do Sal

 

 

 

 

 

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