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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

Instantâneos (70): o conforto de um prato de sopa

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Lenços na cabeça, rostos enrugados e escuros, onde se vislumbram ainda traços de uma beleza já esquecida, precocemente envelhecidos pela preocupação de colocar na mesa comida para o rancho de filhos que a vida lhes deu. Crianças feitas adultas em menos de nada, pé descalço, roupa sempre curta por não ter acompanhado o crescimento ou visivelmente larga, herdada fora de tempo dos irmãos mais espigados. E operários, em busca de uma refeição regada a bom vinho. Era esta a freguesia visível das cozinhas económicas, porque os mais pobres só vinham no fim, à porta fechada.

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Noventa reis pagavam a refeição completa, mas muitos só conseguiam comprar a sopa. Grande número de mulheres aguardavam na fila - que essa tarefa de submissão se tratava no feminino - e levavam para casa uma latinha com um único jantar, com que matavam a fome a três ou quatro.

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As cozinhas económicas de Lisboa – seis ao todo, distribuídas por toda a cidade – abriram as portas em 1893 e serviam milhares de refeições por dia.

A ideia, inspirada nas antigas sopas dos pobres, foi da 3ª Duquesa de Palmela, Maria Luísa de Sousa Holstein Beck, preocupada em fornecer alimentação condigna à grande massa que, vinda da província, fazia andar as indústrias da Capital. E as refeições eram abundantes e higiénicas.

Depois de saciados os que alguma coisa podiam pagar, vinham os miseráveis. Longe da vista e da curiosidade alheias, a troco de nada, comiam os restos das cozinhas económicas. Entre estes, milhares de crianças entregues à sua sorte.
A Duquesa recebia-as no seu palácio, diariamente. Providenciava-lhes banho, desinfeção, uma dose de óleo de fígado de bacalhau e um prato de comida, que devoravam ali mesmo, prevenindo que, nos casebres onde habitavam, fossem expoliados do alimento, como o eram do pouco que ganhavam trabalhando de sol a sol, como os adultos.

 

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Fontes


Filantropia. As Cozinhas Económicas de Lisboa
(1893-1911), tese para obtenção de grau de Mestre em História Moderna e Contemporânea - Especialidade em Política, Cultura e Cidadania; outubro 2012.
Disponível em:

https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/5510/1/TESE_Filantropia_As_Cozinhas_Economicas_de_Lisboa_1893_1911.pdf

Cozinhas Económicas – Arquivo Municipal de Lisboa. Disponível em:

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/

Imagens
Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/
Joshua Benoliel
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/001435
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/002785

Machado & Souza
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/003/FAN/000875

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