Instantâneos (92): há mar e mar, há medir e registar
É português o mais antigo aparelho de medir marés ainda em funcionamento em todo o mundo. O Marégrafo de Cascais foi instalado em 1882 e, desde aí, recolhe informação que contribuí para atividades tão diversas como a previsão das ondas para os amantes de surf, a navegação, a medição da altitude das montanhas ou o mapeamento dos fundos marítimos.
O discreto aparelho está protegido por uma pequena construção circular semelhante a uma guarita, edificada junto à Cidadela. Esta esconde o sistema de medição, constituído por uma bóia ligada a um registo, neste caso, um cilindro que roda ao ritmo marcado por um relógio. A bóia encontra-se isolada da ondulação marítima, dos movimentos das correntes e do vento, no interior de um poço, onde flutua em contacto com a água do mar, subindo e descendo de acordo com a entrada e saída desta. O mecanismo, criado pelo físico francês Amédée Philippe Borrel, contínua extremamente fiável, servindo até para calibrar equipamentos mais modernos.
Foi com este marégrafo, ligado ao laboratório oceanográfico do rei D. Carlos, que se marcou o zero altimétrico (nível do mar), que é a referência em Portugal para a medição das elevações terrestres e subaquáticas, bem como da verificação dos movimentos verticais da crosta terrestre, servindo igualmente de bitola para se perceber a tendência consistente de subida gradual do nível da água do mar – 15 a 20 centímetros no último século - que ameaça as regiões litorais.
A preia-mar e a baixa-mar (duas ocorrências por dia), são medidas ininterruptamente, permitindo criar, ao longo dos últimos 140 anos* e para o futuro, um padrão de comportamento do mar, mas também todas as alterações relevantes, como um tsunami ocorrido do outro lado do globo, cujos efeitos no nosso território são imperceptíveis a olho nu.
Apesar de continuar a ser um modelo para toda a costa portuguesa, o histórico Marégrafo de Cascais é hoje coadjuvado por dois novos sistemas digitais acústicos, que somam a aferição de dados como a temperatura do ar e da água. São 25 os marégrafos a funcionar em Portugal continental, 17 dos quais em terra.
A Câmara Municipal de Cascais realiza, por marcação, visitas guiadas ao espaço, classificado como imóvel de interesse público desde 1997 e que foi um dos primeiros observatórios europeus dedicado ao estudo das correntes e das marés. No final, pode sempre dar um mergulho na bela baía, algo que, tal como o marégrafo, contínua muito em voga há mais de um século.
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*A única interrupção no registo ocorreu entre 1885 e 1900, altura em que o marégrafo se mudou, uma vez que primeiro esteve instalado cerca de 30 metros a Este do local onde se situa actualmente.
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Fontes
Câmara Municipal de Cascais
https://www.cascais.pt/noticia/maregrafo-de-cascais-medir-mares-desde-1882
Direção-Geral do Património Cultural
Texto de Teresa Vale e Carlos Gomes
Instituto Camões
Texto de Nuno Crato
http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e58.html
Imagens
Arquivo Municipal de Cascais
https://arquivodigital.cascais.pt/xarqweb/Search.aspx
Passeios príncipe real d luis e d maria pia
PT/CMCSC-AHMCSC/AFTG/CAM/A/00502
Em dia de tempestade
PT/CMCSC-AHMCSC/AFTG/CAM/A/00292
Em dia de regata
PT/CMCSC-AHMCSC/AFTG/CAM/A/00920
Maregrafo 2
PT/CMCSC-AHMCSC/AESP/CMBP/034
Grupo de senhoras e crianças
PT/CMCSC-AHMCSC/AFTG/CAM/A/01304
http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e58.html