Instantâneos (34): água fresca, limonada ou capilé?
Parece-nos hoje muito moderna e cosmopolita a enorme variedade de propostas que enchem as ruas de Lisboa, transformadas em expositor de comidas e bebidas mais ou menos originais, servidas a quem passa, ao balcão de um qualquer veículo, tão colorido quanto espalhafatoso. Pois, estes novos empreendedores nada mais fazem que reinventar a ancestral atividade de venda ambulante, indo ao encontro da fome ou da sede dos muitos transeuntes.
Menos extravagante parecia, no início do século XX, quem, nos mesmos locais, vendia limonada, refrigerantes improvisados e água fresca - a copo - amenizando os escaldantes verões da Capital e deixando cheio de inveja e ainda mais sedento quem não tinha dinheiro nem para umas gotas... e só olhava.
Na época (1908-1912) a água não chegava a todas as casas e ainda era comum ferver esse precioso líquido obtido nas fontes públicas, receando contágios tão nefastos no passado. A criançada, por outro lado, deliciava-se com os refrescos. Os vendedores de capilé – bebida também presente nos estabelecimentos com “casa própria” - eram um verdadeiro chamariz para os mais novos, talvez na expetativa de escorropichar algum copo.
Traziam a água em bilhas de barro e tinham o requinte de, para além de adoçar a mistura, aromatizá-la com uma casca de limão. Mesmo que só tivessem um banco como utensílio de trabalho.
Capilé e groselha são sabores bem portugueses, ainda hoje recordados por muitos e, talvez por isso, relançados no “mercado da nostalgia”. Mantêm as embalagens e rótulos de outros tempos.
Mas, manterão o encanto?
Fontes
Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/
Joshua Benoliel
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/000146
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/000145
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/000144