Instantâneos (59): brio e gente para homenagear o mais ilustre médico
Meninas vestidas de branco com imaculados laços prendendo os cabelos; rapazes fardados, empunhando a bandeira da Mocidade Portuguesa; bandas de música tocando pelas ruas, orgulhosas dos seus uniformes e estandartes; campinos vindos das maiores casas agrícolas do concelho; senhores de fato domingueiro, damas com os seus mais vaporosos vestidos, pois que desfilar em pleno mês de junho não é nada fácil no Alentejo. Flores, faixas laudatórias, danças e cantares, discursos, descerramento de lápides e até uma “merenda regional” servida no cineteatro local…Alcácer do Sal encheu-se de brio e de gente nas ruas para prestar uma homenagem inolvidável a um dos seus mais ilustres filhos, Francisco Gentil, insigne médico a quem devemos a criação do Instituto Português de Oncologia (IPO).
Foi a 28 de junho de 1953, um glorioso domingo em que o “filho pródigo” (na imagem, de chapéu) regressou a casa. Meses antes, uma comitiva alcacerense havia-se deslocado a Lisboa comunicando a intenção de organizar tal comemoração. À frente deste grupo estava outro médico, Acácio Abreu Faria, que chamou a si a congregação de todas as vontades com o objetivo de enaltecer Francisco Gentil na terra que o havia visto nascer, 75 anos antes.
Um grupo de senhoras das “melhores” famílias da terra uniu-se para tratar de todos os pormenores que só a atenção feminina consegue abarcar.
Os homens trataram dos contactos institucionais e das verbas necessárias, claro está.
Veio o Governador Civil, o Arcebispo de Évora e muitas outras figuras locais e regionais dignamente recebidas nos Paços do Concelho pelo então presidente do município, José Fernandes Lince.
Depois foi a romagem ao largo onde ainda hoje se ergue a casa-berço de Francisco Gentil e que, desde esse dia, deixou de ostentar o nome de outro distinto alcacerense (João Aragão Mascarenhas) ali também nascido, cuja importância se perdeu no pó do tempo, quiçá injustiçado, pois que, com a opção de homenagear o talentoso médico, “apagou-se” o outrora eminente deputado.
Houve ainda tempo para uma exibição de danças e cantares regionais, com mondinas e mondadeiras de Alcácer; ceifeiras do Torrão e tocadores de gaitas-de-beiços, em que também não faltou o som mais genuíno destas terras à beira-rio: o Ladrão do Sado, que certamente Francisco Gentil não ouvia nos salões internacionais que então frequentava.
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Fontes
Biblioteca Municipal de Setúbal
Jornal O Distrito de Setúbal
1953
Imagens
Arquivo Histórico Municipal de Alcácer do Sal
PT/AHMALCS/CMALCS/BFS/01/01/09/001-011
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Os meus agradecimentos a Maria Antónia Lázaro, pelos “recortes de jornal”.