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O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

O sal da história

Crónicas da história. Aventuras, curiosidades, insólitos, ligações improváveis... Heróis, vilões, vítimas e cidadãos comuns, aqui transformados em protagonistas de outros tempos.

Instantâneos (46): figuras que brilham

as engomadeiras carlos reis.png

 

Luz. Todas as cambiantes de luz que se possa imaginar. Diferentes, encantadoras, hipnotizantes, inebriantes fontes de luminosidade que destacam as figuras, fazendo-as brilhar, ou as escondem numa penumbra estudada, realçando, ao invés, os objetos, o panorama circundante, o casario pitoresco. Mesmo nas paisagens mais comuns, nos quadros rurais que tanto povoam a sua obra, nos retratos encomendados pela realeza ou outras figuras de grande destaque social, que contribuíram para o seu sucesso e lhe pagaram os estudos, ajudando-o a impor-se como grande artista, a luz é a glória maior de Carlos Reis. Isso e os brancos.

Os brancos! Como é possível retirar tanta expressão, tamanho movimento, inigualável leveza, inimitável transparência de um simples pano branco?
Atentemos nestes resplandecentes exemplos da mestria do pintor de Torres Novas.

Carlos_Reis_-_O_Batizado.jpg

 

Quanta vida se reflete nestas imagens!
Em "Batizado de aldeia", todo o quadro de uma festa particular na província. O velho orgulhoso, a cuidadosa mulher transportando o bebé; a vizinha mirone apreciando o cortejo familiar. As abóboras deixadas ao sol; as couves já espigadas, ressequidas pelo estio.
E o branco, ardilosamente mostrando as meninas, deliberadamente lançando na penumbra os outros convidados. No incontornável vestido da criança a batizar. Sempre o branco.

as engomadeiras carlos reis.png

 

Inocente, puro, esvoaçante e vivo, mesmo quando apenas se trata de um delicado vestido em que três jovens trabalham, provavelmente para luxuoso gáudio de uma terceira: a proprietária da vestimenta.

As engomadeiras terão, provavelmente, os mesmos devaneios da patroa, mas uma outra condição agarra-as a este trabalho, tocando a riqueza sem a possuir; tomando-lhe o gosto, sem a poder usar. No entanto, mesmo quando se afadigam na labuta, deixam os sonhos aflorar, animando a conversa. Quanta fantasia se esconde naquele sorriso maroto e no olhar cúmplice da amiga?

 

 

 

 

 

Asas Carlos Reis.GIF

 

 

Em “Asas”, o branco é diferente. Curiosamente, embora se retratem belos anjos personificados por crianças, provavelmente em dia de procissão, lá está a mesma transparência, límpida, quase etérea, imaterial, mas não a mesma pureza sem mácula. O branco aqui surge-nos menos ostensivamente virginal, no entanto, magistralmente matizado, como que dizendo que no melhor pano cai a nódoa...

 

 

 

 

 

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A obra de Carlos Reis (1863-1940) é habitualmente classificado como naturalista e é certo que insistiu neste registo, elevando-o a um nível particular, mesmo quando esta corrente artística já se encontrava em decadência. Conseguiu cumprir formação em Lisboa e Paris com o patrocínio do então príncipe D. Carlos. De regresso, substituiu o mestre Silva Porto como professor de paisagem na Escola de Belas-Artes. Foi diretor do Museu Nacional de Belas Artes e do Museu Nacional de Arte Contemporânea.

 


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O “Batizado de aldeia” (?) pertence ao Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil.
“As engomadeiras” (1915) encontra-se no Museu Nacional de Arte Contemporânea (Chiado), Lisboa.
“Asas” (1933) pode ser visto no Museu Municipal Carlos Reis, na sua terra natal, Torres Novas.
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Fontes
http://www.museuartecontemporanea.gov.pt/pt/pecas/ver/427/artist


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carlos_Reis_-_O_Batizado.jpg


https://museu.cm-torresnovas.pt/index.php?start=21

 

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