(16) Instantâneos: o veraneio dos remediados na outra banda
Mudar de ares, “desencalmar-se nos subúrbios, enchendo os pulmões de ar tonificante, deliciar-se na contemplação sonhadora dos extensos horizontes e refazer as energias que o contacto com a natureza apura e exalta”. Era isto que o português remediado do início do século XX procurava ao domingo, único descanso semanal*.
No verão, buscava-o ainda mais sofregamente, aos magotes, de comboio, para os lados de Cascais e Sintra ou, melhor ainda, pelo pitoresco e a aventura da travessia, desejava descomprimir na margem sul. Queria sair do calor da capital, que lhe lembrava a morosa semana nas fábricas, nas oficinas ou no comércio.
Os vapores “baratos” chegavam a transportar entre 12 e 18 mil pessoas em apenas um dia. Famílias inteiras, munidas de farnel, que passariam umas horas vagueando por Cacilhas, admirando Lisboa a partir das ameias do castelo de Almada, apreciando as sombras na zona do Alfeite, refrescando-se em banhos na Trafaria ou deleitando-se com os retiros da Cova da Piedade, onde - extrema informalidade! - se comia e bebia em mangas de camisa.
Era o possível “saneamento do corpo e do espírito” para os que não tinham tempo ou dinheiro para se deslocar em vilegiatura a “estâncias consagradas pelo bom tom”.
É que, para estes, o devaneio seria sempre breve.
No dia seguinte, apresentar-se-iam nos seus postos para mais uma semana de árduo labor, já a pensar no domingo seguinte.
…………..
*O dia de descanso semanal obrigatório foi decretado apenas em 1911.
Fontes
Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa
http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt/sala/online/ui/searchbasic.aspx?filter=AH;AI;AC;AF
Joshua Benoliel
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/000174
PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/001794
Hemeroteca Digital de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/
Illustração Portuguesa
Nº334 – 15 jul. 1912