Pela imprensa (32): casamentos a peso de ouro
Muito antes do surgimento de sites da especialidade e do televisivo “Casados à Primeira Vista”, já existiam instituições cuja missão era fazer o mach perfeito, que é como quem diz, o emparelhamento ideal entre pessoas que buscavam um matrimónio feliz, quiçá para o resto da vida. As agências de casamentos, umas mais sérias do que outras, terão surgido na primeira metade do século XIX nos sempre modernos Estados Unidos da América. Por cá, encontramos estes anúncios que nos dão conta, entre 1919 e 1920, da existência de um Matrimonial Club of New-York, sediado na cidade do Porto.
Este misterioso club sobre o qual foi muito difícil encontrar informação – talvez devido ao sigilo próprio de negócios tão delicados - apregoava conseguir o par certo, mas também uma muito recomendável vantagem financeira decorrente dessa união. Um “dois em um” sonhado por toda a gente: sorte ao amor e ao dinheiro!
A possibilidade de encontrar um parceiro estava, assim, ao alcance de (quase) todas as classes sociais, pois a inscrição era bastante flexível e aberta a pessoas com fortunas entre os 5 e os 500 contos.
Para além do nome, o club parecia ter um alcance internacional e garantia já ter sido responsável por importantes casamentos “e outros muitos que já estão em relações diretas”.
Neste anúncio em particular, oferecia-se aos cavalheiros que se quisessem candidatar, uma noiva uruguaia, descendente de brasileiros, órfã, independente, elegante e instruída, para além de dotada de 100 contos. Um achado para qualquer moço casadoiro!
Um outro anúncio era ainda mais aliciante, mas algo desesperado. Por 170.000 pesos em ouro, comprava-se noivo para senhorita de 30 anos, educada e bondosa. O pretendente teria apenas de ser sério, demonstrar boas referências e, enfim, estar disposto a “evitar escândalo social”, o que quer que isso quisesse dizer.
Certo é que este anúncio desapareceu tão enigmático quanto tinha aparecido, seis meses após a primeira publicação. Não terá sido fácil encontrar o cavalheiro indicado para prevenir tal melindre que, muito provavelmente, maculava a honra da senhorita e, com tão longa espera, é bem possível que o escândalo não se tenha furtado de aparecer.
Os anúncios ao Matrimonial Club of New-York também deixaram de marcar presença nos jornais em meados de 1920, permanecendo pouco mais de um ano.
Desconheço se o negócio não vingou em Portugal ou se escolheu outras formas de se divulgar, mas sei que algumas experiências deste género não passavam de fraudes. Em 1895, soube-se que o Matrimonial Club of New York, ao qual o “nosso” foi buscar o nome, era, afinal, “um velho vigarista astuto” e mais dois homens. O fito eram as múltiplas taxas que os “sócios” tinham de pagar para fazer os seus processos avançar em direção ao amor, que tardava sempre.
Outros, aparentemente, funcionavam melhor. A New Plan Company, sediada em Kansas City, Missouri, por exemplo, alegava ter tido mais de 32 mil membros entre 1911 e 1917 e muito sucesso como alcoviteira. Apregoavam as características físicas, psicológicas e virtudes morais dos solteiros e demais desimpedidos a seu cargo, bem como a idade, peso e altura, formação, gostos e, claro, o rendimento… porque isto de amor e uma cabana só mesmo na canção do José Cid, nos reality shows ou em qualquer outra imaginação prodigiosa e idílica.
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Nota: as fotografias publicadas são meramente ilustrativas de casamentos da época (inícios do século xx), na cidade do Porto.
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Fontes
Hemeroteca Digital de Lisboa
Illustração Portugueza
12.05.1919, 23.02.1920, 17.05.1920
The Catholic Telegraph
https://thecatholicnewsarchive.org/?a=d&d=TCT18950228-01.1.6&
28.02.1895
The Democratic Standard
https://newspaperarchive.com/democratic-standard-mar-15-1895-p-4/
15.03.1895
The Basthust Daily Free Press and Mining Journey
https://trove.nla.gov.au/newspaper/article/64337839
12.08.1902
https://chrisenss.com/the-new-plan-company-catalog-for-matrimony-2/
The New York Times
https://www.nytimes.com/1922/10/22/archives/church-sponsors-matrimonial-club-organization-formed-to-take.html
22.10.1922
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://historicnewspapers.sc.edu/lccn/sn84026897/1899-03-22/ed-1/seq-4.pdf
https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=1183646790437650&id=100063770192323
Imagens
Arquivo Municipal do Porto
Foto Guedes, F-NV/FG-M/11/12, F-NV/FG-M/11/120