(9) Pela imprensa: ou colaboram, ou levam!
A ideia é incentivar os cidadãos portugueses a participar nessa tarefa patriótica que é perceber quantos somos, quem somos e como vivemos, que é o mesmo que dizer: colaborar com o recenseamento geral da população, vulgo censos. Mas, é muito difícil olhar para este anúncio sem pensar em ameaças à nossa integridade física.
O senhor com cara de poucos amigos e farda aparentada com a de polícia sinaleiro parece afirmar: ou fazem o que têm a fazer ou levam com este cassetete na tola. Ou falam verdade, ou vou atrás de vocês…E se mentirem, eu vou saber!!!
A postura, é, de resto, muito ao jeito da época. Estávamos em 1930, anos de estreia do Estado Novo. O jovem regime não queria dúvidas quanto aos seus propósitos de impor a ordem, mandando em tudo e em todos. Quatro anos antes tinha sido instituída a censura à imprensa e à liberdade de expressão e, no que toca aos censos, estavam previstas coimas pesadas para as denominadas “transgressões estatísticas”, sendo que se deveria utilizar todos os meios de publicidade ou persuasão ao alcance para levar à participação – daí o cassetete?!
O anúncio é da Direção Geral de Estatística, o INE – Instituto Nacional de Estatística só seria criado com a atual designação cinco anos mais tarde, em 1935. O VII recenseamento geral da população seguiu as indicações da carta de lei de 1887, mas introduziu algumas novidades, como dividir a população entre ativos e não ativos, sendo que, para os primeiros. foram também criadas categorias para a situação perante a profissão e o tipo de profissão, de forma a conhecer quantos indivíduos laboravam em cada sector económico. As mulheres casadas que se ocupavam dos seus lares foram incluídas na população ativa, como membros da família auxiliares dos respetivos chefes, os maridos, claro!
Fontes
https://www.cm-ferreiradozezere.pt/viver/arquivo
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE